segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O Ciclo das Sombras - Cap. 4/ pt. 3

Olá Queridos Leitores,

Mais um pouco do Ciclo para vocês. Espero que estejam gostando da história.

Cap. 4/pt. 3

Quando colocou os pés no chão, sentiu as pernas fraquejarem e teria caído no chão se não fosse por ele tê-la segurado. Ele a envolveu com cuidado em seus braços e tentou fazer isso evitando que Kimberly se assustasse mais uma vez com sua rapidez e agilidade.
            — Me solte! — Ordenou sem muita convicção. — Eu quero ir... — sua voz sumiu quando ela olhou para os olhos verdes azulados dele.
            Tinha de haver alguma coisa diferente com ele. Ninguém tinha olhos tão brilhantes e hipnóticos como os dele, não alguém comum. E Kimberly aprendeu naquele momento, sem saber como, que ele não era uma pessoa comum, ele tinha alguma coisa de especial e ela ainda ia descobrir o que era.
            — O que você tem? — Indagou parando de tentar se soltar dele. — Eu sinto medo de você, mas não consigo me afastar toda a vez que chego perto. E os seus olhos... os seus olhos...
            Ulrich não disse nada, segurou-a pela cintura com um braço e com o outro segurou a cabeça dela entrelaçando os dedos em seus cabelos. Ele aproximou o rosto dela mais perto do seu e sentiu a respiração dela acelerar.
            Kimberly não conseguia organizar os pensamentos, começava a ficar perturbada como sempre ficava quando estava perto dele. Ela sentiu quando ele a trouxe mais para perto dele e pôde perceber o contorno do corpo dele através do fino tecido da camisola que vestia.
            — Quem é você — murmurou, sentindo que não conseguiria mais resistir a ele. — Como pode mudar minha vontade apenas com um olhar? E o seu beijo — perguntava sentindo que seu rosto estava cada vez mais próximo do dele — como pode haver um beijo, que me faz esquecer, por um momento, quem eu sou? E como eu pude sentir a mesma sensação do seu beijo quando eu sonhei que você havia me beijado? — Suas perguntas não passavam de sussurros inaudíveis e nem ela mesma conseguia ouvir o que estava dizendo, mas ele ouviu cada palavra dela e respondeu:
            — Zeit, meine Prinzessin, der Zeit (tempo, minha princesa, o tempo). Com o tempo você vai entender tudo isso — e a beijou com paixão.
            Ela não ofereceu resistência ao beijo dele e sentiu seu coração bater acelerado no peito. Perdeu o equilíbrio e se segurou mais a ele. A tontura que sentiu não foi da queda que sofrera. O frio no estômago que sentiu lhe deixou claro que o que ela sempre procurara até aquele momento, finalmente, encontrara. Era aquela emoção, aquela sensação de perder a noção do tempo e do espaço e aquele frio no estômago que ela sempre imaginara sentir no dia em que encontrasse a pessoa perfeita. E agora que ela sentira isso, tinha a certeza de que encontrara alguém especial, mesmo que esse alguém especial tivesse alguns segredos, mas com relação a isso, Kimberly não se preocupava, pois sabia que tinha muito tempo pela frente para desvendar cada um deles. Feliz com a descoberta, ela o apertou mais contra seu corpo e sentiu o perfume dele mais forte do que antes. Por ela, aquele momento poderia durar para sempre.
            Quando o beijo se tornou mais calmo e Ulrich lentamente se afastou dela, Kimberly continuou com os olhos fechados, tentando guardar na memória as sensações que tivera.
            — Alles in Ordnung (está tudo bem)? — Ele perguntou preocupado.
            Devagar Kimberly abriu os olhos e seu assustou com o que viu. Ele estava diferente, se é que era possível, estava mais bonito e parecia haver um brilho em torno dele. Os olhos verdes azulados pareciam irradiar um brilho que ela nunca vira antes. Tudo nele estava mais nítido, era como se alguma coisa em sua visão mudasse, fazendo com que Kimberly visse as coisas mais destacadas.
            — Kimberly? — Ele tornou a perguntar. — O que foi?
            — Você... — ela disse baixinho — você está diferente. Parece mais iluminado e mais... — queria dizer a palavra bonito, mas achou que soaria adolescente demais, então terminou  dizendo — eu o vejo diferente. Parece que tudo em você ficou mais intenso, como pode?
             Então Ulrich sorriu para ela e a abraçou contente.
            “Sie sah (ela viu)!” — Pensou enquanto a abraçava com ternura. — “Sie sah (ela viu)! Das Buch hat Recht! (O Livro está correto!).
            Ele a afastou um pouco, segurando-a pelos ombros e disse sorrindo de forma encantadora:
            — Vielen dank für gekommen in meine Leben (muito obrigado por surgir em minha vida).
            Ela ergueu os olhos e disse a ele, enquanto suspirava:
            — Eu não entendo alemão... lembra?
            Ele soltou uma gargalhada e disse animado:
            — É verdade, eu esqueço... preciso me controlar.
            — Ou então me ensinar alemão — ela disse.
            Permaneceram olhando-se por alguns segundos então Kimberly perguntou:
            — Acho que eu já posso ir pra casa, não é? Veja, posso ficar de pé sozinha — concluiu erguendo os braços ao lado do corpo.
            — Certo, mas antes de qualquer coisa, o doutor Wagner precisa examiná-la mais uma vez para poder dar alta. Vou chamá-lo, já volto.
            Ele ia virar-se para sair do quarto quando ela o chamou. Ele virou-se para ela e Kimberly perguntou:
            — Ulrich... o doutor Wagner é como você, não é?
            Ele não esperava este tipo de pergunta e ficou calado por um segundo, imperceptível a Kimberly, em seguida ele respondeu:
            — Sim, ele também é alemão — e saiu do quarto.
            Assim que ficou sozinha, Kimberly balançou a cabeça e sorriu. Sabia que Ulrich escondia alguma coisa e não iria falar tão facilmente, a última pergunta que ela lhe fizera provava isso. Ele se esquivou da pergunta respondendo algo que ela não perguntara.
            — Fazer o que — ela disse para si mesma — é só questão de tempo, como ele mesmo disse.
            Caminhou até os pés da cama e puxou a cortina de algodão para o lado direito para que pudesse ver o que tinha do outro lado do quarto. Havia um guarda-roupa branco e um espelho ao lado. Lentamente, ela caminhou até ficar de frente para o espelho e fez um “Oh!” de surpresa. Seu rosto estava mesmo muito inchado e roxo e levaria um bom tempo até voltar ao normal.
            “Vou ter de pedir um atestado para o doutor Wagner” — pensou enquanto olhava para o rosto por todos os ângulos que conseguia. Suspirou um pouco desanimada e concluiu. — “É, eu devo mesmo ter um ótimo Anjo da Guarda, pois se não fosse ele eu...” — interrompeu o pensamento quando se deu conta do que acontecera. No momento de maior perigo, ela se concentrara e chamara pela proteção do seu Anjo da Guarda, mesmo não acreditando na existência dele, e então ele...
            — Pronto, aqui estamos — disse Ulrich de repente atrás dela. Wagner encontrava-se a alguns passos mais atrás.
            Ela não conseguiu evitar o susto, mesmo estando acostumada com as aparições repentinas dele. Com a mão no peito e tentando controlar a respiração, ela disse:
            — Um dia você ainda vai me matar de susto.
            — Se um dia isso acontecer, meine Liebe (minha querida), com certeza não será de susto — ele falou extremamente baixo, como um sussurro, impossível de ser ouvido.
            — O que você quis dizer com isso? — Ela perguntou sem entender.
            — Ele disse que me trouxe aqui para que eu a examinasse novamente e desse alta para você poder voltar para sua casa,  ja
(sim)? — Disse Wagner rapidamente e em seguida olhou para Ulrich fuzilando-o com os olhos.
            — Was? (O quê?) — indagou Ulrich para Wagner.
            — Sie hörte was Sie gesagt haben! (Ela ouviu o que você disse!) — falou Wagner em tom irritado.
            — Nein (não)! Siet hörte nicht! (Ela não ouviu)! — Afirmou virando-se para Wagner.
            Os dois começaram a conversar em alemão e, por um momento, esqueceram que ela estava ali, acompanhando o diálogo, embora não entendesse nada do que diziam. Enquanto eles discutiam sobre “sabe-se-lá-o-quê”, ela se encaminhou até o guarda-roupa e abriu uma porta onde encontrou sua bolsa, um vestido preto de manga comprida e um par de sapatos.
            “Como foi que ele pegou o vestido e os sapatos que eu mais gosto de usar?” — Pensou passando a mão pelos cabelos.
            Como os dois estavam alheios a ela, Kimberly pegou o vestido e os sapatos e encaminhou-se até uma porta que havia perto do guarda-roupa, abriu-a e constatou que era o banheiro. Entrou e chaveou a porta.
            Quando perceberam que Kimberly fora trocar de roupa, Wagner falou em tom normal:
            — Ulrich, se ela for a Eleita, você não pode fazer isso! Quer matá-la de susto? — Perguntou lançando um olhar para a porta do banheiro.
            — Claro que não, como eu poderia? — Perguntou surpreso.
            — Fazendo como você fez agora! Um Gottes Willen! Wie alt bist du? Du bist kein Kind mehr!(Pelo amor de Deus, Ulrich! Quantos anos você tem? Você não é mais criança!) Você disse a ela: “Se um dia isso acontecer, minha querida, com certeza não será de susto!” — Wagner repetiu o que Ulrich dissera.
            — Aber ich habe nicht geschrieen (mas eu não gritei)! Eu nem falei em tom de voz normal!  — Defendeu-se.
            Wagner cruzou os braços, irritado e disse:
            — Nein (não)? — Perguntou encarando Ulrich. — Mas ela ouviu você! Ela perguntou o que você tinha dito! Ela o ouviu!
            Ulrich parou por um momento, olhou para o chão tentando entender o que acontecera e disse a Wagner.
            — Wagner... eu falei o mais baixo que nós conseguimos falar, você sabe. A única pessoa que poderia ter escutado, porque eu sussurrei quando eu disse aquilo, era você. Ninguém normal escutaria aquilo!
            — A não ser que... — começou Wagner começando a entender o que acontecera.
            — Genau... (correto) — concluiu Ulrich olhando para o amigo.
            Neste momento, Kimberly saiu arrumada do banheiro. Estava muito bonita com o vestido preto que Ulrich trouxera para ela.
            — Die Erwählte... (A Eleita)... — disseram os dois em voz muito baixa e, desta vez, Kimberly não ouviu nada.
            — Então, Kimberly — disse Wagner rapidamente para amenizar o ambiente de surpresa que pairava no ar — está se sentindo realmente bem? Não sente mais enjoo ou tontura?
            — Não, doutor. Não sinto mais nada mesmo. A única coisa que eu sinto é o meu rosto, pois ele dói conforme eu falo.
            Wagner sorriu satisfeito e disse enquanto encaminha-se até a cômoda que havia no quarto e escrevia algo em um papel.
            — Sendo assim, — disse enquanto escrevia — vou lhe dar o atestado para ficar em casa por uma semana. Siga todas as instruções que eu escrevi no receituário para você, tome os remédios à mesma hora e passe aquela pomada. Se fizer tudo conforme eu disse, na segunda-feira que vem você estará perfeita. Creio que Ulrich vai ficar com você por algum período para saber se você realmente está seguindo as regras — terminou e entregou três folhas de papel: o atestado, o receituário com os remédios e mais uma folha com as instruções do que ele acabara de falar.
“Como ele escreveu tão rápido e eu nem o vi trocar as folhas? Mais um ponto para colocar no meu caderninho de coisas doidas” — pensou sorrindo, enquanto pegava os papéis. Olhou para eles e constatou que Wagner tinha a letra tão bonita e desenhada quanto à letra de Ulrich. “Vai ver, eles estudaram na mesma escola” — concluiu como se fosse a melhor resposta para a observação que fizera.
— Bem, — disse ela apertando a mão gelada de Wagner — muito obrigada doutor por ter me cuidado e obrigada pelo atestado.
Bitte schon (de nada) — respondeu sorrindo encantadoramente para ela.
— Vamos? — perguntou Ulrich colocando a mão sobre o ombro esquerdo dela.
— Vamos — ela respondeu acompanhando-o.
Ulrich deixou que Kimberly fosse à frente e quando ela passou por ele, ele disse muito rápido e muito baixo, de modo que só Wagner escutasse:
Dies ist sehr wichtig! Ich muss mit Ihnen spatter sprechen! (Isto é muito importante! Eu preciso falar com você depois) — falou para o médico.
— Über was (sobre o quê)? — Perguntou Wagner se aproximando mais de Ulrich.
Über die Erwählte (sobre a Eleita).
Wagner lançou um rápido olhar para Kimberly e respondeu muito rápido:
Abgemacht! Heute Abend. (Certo! Hoje à noite).
O diálogo durou uma fração de segundo e, quando Kimberly virou-se para olhar para Ulrich, ele já havia se despedido do médico.
Caminharam em silêncio pelos corredores do hospital. Kimberly observou que tudo naquele lugar era extremamente branco. Era tão branco que ela teve de piscar os olhos algumas vezes para se acostumar com a claridade do ambiente. Enquanto caminhavam, ela não viu mais ninguém, o hospital estava deserto. Pensou em perguntar a ele onde as outras pessoas estavam, mas achou melhor ficar quieta. Entraram no elevador que os levou até o subsolo, onde saíram no estacionamento. Ulrich pegou o alarme do carro no bolso e o acionou. No mesmo instante, viu-se um carro preto acender as luzes. Caminharam em silêncio até o veículo e, quando estavam acomodados, Ulrich disse:
— Fico feliz que, finalmente, tudo tenha terminado bem — e lhe dirigiu um sorriso.
Ela continuou olhando para frente e não disse nada. Estava pensativa.
— O que foi? — Indagou preocupado.
Ela respirou fundo e disse, enquanto olhava e sorria para ele:
— Não foi nada, vamos para casa.
O caminho de volta foi muito silencioso. Kimberly estava perdida em seus pensamentos. Tentava entender o que, na verdade, estava acontecendo. Eram tantas coisas que ela custava a acreditar que realmente as estava vivenciando.
— A propósito — disse Ulrich de repente — eu já dei um destino às chaves da casa.
— O que? — Perguntou virando-se para olhá-lo.
— Isso mesmo o que você ouviu. Não precisa se preocupar com as chaves, porque eu já as devolvi para o gerente de plantão da imobiliária ─ terminou e sorriu.
Foi neste momento que Kimberly se lembrou que deveria ter devolvido as chaves à imobiliária. Que sorte ter Ulrich por perto, se não fosse por ele, na certa Fernando estaria louco atrás dela. E nem para o celular ele poderia ligar, pois ela o havia deixado na empresa. Suspirou exasperada, depois deste final de semana, ela decidira que iria tomar uma atitude drástica. Iria fazer uma profunda análise de tudo pelo que passara e iria tomar as medidas necessárias. Precisava fazer isso o quanto antes, pois temia ficar perturbada como seu tio.
— Obrigada — respondeu por fim. ─ Menos uma preocupação — disse tentando sorrir.
Ulrich a observou mais atentamente e perguntou, começando a ficar preocupado:
— Não há nada de errado com você, há? Você está sentindo-se bem? Não está tonta, está?
Ela balançou a cabeça negando as perguntas e respondeu enquanto passava a mão pelo rosto frio dele:
— Está tudo bem. Não se preocupe ─ olhou para frente e disse ─ olhe, chegamos em casa.
Ele estacionou o carro em frente ao prédio, desligou o motor e disse saindo do carro.
— Vou acompanhá-la até o seu apartamento. É o mínimo que eu posso fazer depois de tudo isso.
Ela sorriu para ele e seguiu andando até o portão de entrada. Quando chegaram ao apartamento, ela largou a bolsa na cadeira que ficava ao lado da porta de entrada, esperou ele entrar e fechou a porta, passando a chave. Quando ele se virou para ela, ela pediu. Sabia que não devia estar fazendo isso, mas que diabos! Depois de tudo o que ela passara e sentira, era natural que pedisse a ele.
— Ulrich fique comigo esta noite... por favor.
Ele sorriu daquela forma que a fazia perder o fôlego e respondeu:
— Eu gostaria muito de ficar com você, mas está tarde e logo vai amanhecer... eu preciso estar em casa. Prometo que não faltarão oportunidades para ficarmos juntos — ele ia se aproximar para beijá-la quando ela virou o rosto, se afastou dele e disse cruzando os braços.
— Você realmente é estranho... me salva de dois bandidos, me leva para o hospital, cuida de mim e agora não quer ficar comigo... Sabe, não sei se algum dia eu vou entender você — fez uma breve pausa e concluiu. — Também não sei se eu vou querer entender.
— Kimberly, — ele disse aproximando-se dela — não interprete o que eu lhe disse como uma recusa. Eu lhe disse que há coisas que eu não posso contar agora. Por favor, não pense que eu não quero ficar com você, mas eu realmente preciso ir. Você não entenderia se eu ficasse com você e acontecesse alguma coisa estranha.
Ela sorriu desanimada e disse:
— Acontecer mais alguma coisa estranha do que já tem acontecido desde que eu conheci você? Acho que não. Mas tudo bem... aprendi que a gente precisa ter paciência para poder lidar com as coisas que nos cercam. Se nós nos vermos de novo, pode ter certeza de que eu vou ter paciência.
— Vielen danke (muito obrigado) — ele disse enquanto a abraçava e beijava.
Mais uma vez, ela perdeu a noção de tempo e espaço. Ela imaginara que, conforme ia se acostumando com ele, essa euforia toda iria, aos poucos, desaparecer, mas ela constatou que não era isso que acontecia, pelo contrário, parecia aumentar a cada vez que ele chegava perto dela.
Então ele se afastou dela e disse, enquanto abria a porta para sair:
— Até mais, Meine Prinzessin.
— Até — ela respondeu olhando-o sair e fechar a porta. Esperou alguns segundos e girou a chave.

De repente, o apartamento lhe pareceu muito pequeno e ela sentiu aquele desagradável aperto no peito que sentia toda a vez que estava longe de quem ela amava muito. Não se preocupou em comer nada ou de tomar um banho, simplesmente caminhou até a cama e se atirou nela. A única coisa que queria agora era dormir e não pensar em mais nada. Antes de cair no sono, ela olhou para o relógio e constatou que eram cinco horas da madrugada. Ulrich tinha razão, daqui a pouco iria começar a amanhecer.



Até segunda que vem.

Aguardo seus comentários :)


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