segunda-feira, 30 de março de 2015

O ciclo das sombras Cap. 1/ pt. 2

Olá Queridos Leitores!!

Como prometido aqui estou eu novamente para postar mais uma parte do livro.
Espero que estejam gostando.

Acordou às seis e meia, como de costume, arrumou-se e saiu para a parada do ônibus. Faltavam ainda alguns minutos para passar o próximo ônibus. Enquanto esperava, pensava:
“Mas que viagem... todas as casas tinham foto, por que justamente a que eu queria não tinha? Nem deveriam ter colocado o link da foto então...”
Quando se deu conta, o ônibus já estava na parada. Assustou-se pela falta de atenção. Estivera tão distraída pensando na casa que nem percebeu o ônibus chegar.
“Ainda bem que era um ônibus e não um assaltante” — concluiu enquanto embarcava no coletivo.


— Bom dia pessoal — cumprimentou quando entrou na sala.
— Bom dia, Kim — responderam Brian e Penélope juntos.
Kimberly sentou-se em sua mesa e começou a olhar as tarefas que tinha para fazer naquele dia.
— Ah, sim — disse Brian de repente. — Nós cinco vamos sair para beber alguma coisa depois do expediente, quer vir conosco Kim?
— Vão aonde? — Perguntou enquanto organizava alguns papéis.
— Naquele barzinho maneiro que tem perto do posto de gasolina — respondeu Penélope.
Kimberly parou o que estava fazendo e perguntou:
— Que posto? Onde é esse barzinho, estou completamente perdida...
— Sabe aquele posto que fica há umas cinco paradas aqui da empresa? Bem na avenida?
Alguns segundos depois, Kimberly sabia perfeitamente qual era o barzinho.
— Ah sim, o barzinho que fica no lado oposto da casa! — Exclamou involuntariamente.
— Que casa?
Depois que Brian fez a pergunta, Kimberly se deu conta de que tinha falado da casa em voz alta. Nenhum dos seus colegas sabia de seu interesse pela moradia.
— Casa? Nenhuma casa. Estou viajando... — fez uma pausa e disse para mudar de assunto. — Bem... e por que não? — Respondeu sorrindo. Assim, teria uma oportunidade de ver a casa mais de perto. — “E de fazer alguma coisa diferente para mudar a rotina...” — concluiu com um leve suspiro.


Quando o relógio marcou quatorze horas, a senhorita Dvenau chegou. Era uma loira afetada, metida à patricinha e muito arrogante. Kimberly a detestava, mas tinha que tratá-la bem, afinal, o pai dela era um dos melhores clientes que a Arts Designer tinha. Kimberly a recebeu na sala de reuniões da empresa.
— Boa tarde, senhorita Dvenau.  Sente-se — disse indicando uma cadeira.
— Boa tarde — respondeu com o nariz empinado. — Não quero ser grosseira com você, — começou em tom impertinente — mas meu pai nã...
— Eu sei o que vai dizer — interrompeu Kimberly secamente. — Seu pai não vai gostar do trabalho que estamos fazendo. Mas devo lembrá-la de que lhe mostramos a prova do convite umas três vezes e em todas às vezes a senhorita achou uma maravilha. Porém, após certo tempo, você nos ligou e disse que não foi a fonte que você escolheu que nós utilizamos.
A senhorita Dvenau ia abrir a boca para dizer alguma coisa, mas Kimberly a interrompeu.
— Não sei se a senhorita se deu conta, mas seu casamento está quase chegando e nossa equipe tem o prazo de entregar esses convites prontos e perfeitos até o final da semana que vem. E, como eu sei que a senhorita tem um gosto refinado, então é claro que vai querer qualidade 100% em seus convites, mas para isso, eu preciso que a senhorita se decida de uma vez por todas.
Mais uma vez a senhorita Dvenau iria falar alguma coisa, mas Kimberly se adiantou.
— Eu fiquei pensando durante o dia de ontem sobre o seu convite e achei ideal que ele fosse assim, que acha? — Perguntou enquanto levantava-se da cadeira e virava o notebook para a senhorita Dvenau poder acompanhar o que seria alterado. Em seguida, começou a fazer as mudanças no convite.
A senhorita Dvenau não abriu mais a boca, apenas ficou olhando Kimberly fazer as modificações.
— Fiquei pensando que a fonte realmente não está apropriada para uma festa de sua categoria, então achei melhor colocar a fonte Alexei Copperplate. No lugar dessas pombinhas, umas flores bem delicadas como esses lírios, por exemplo, fica muito mais romântico e digno de uma senhorita distinta e refinada — quando disse isso, Kimberly sufocou um sorriso, pois sabia que de distinta e refinada a senhorita Dvenau não tinha nada. Já ouvira algumas fofocas de alguns flagras dela com alguns rapazes, que na certa não eram o seu noivo.
Passados quinze minutos, o convite estava totalmente reformulado.
— Pronto, é assim que o seu convite vai ficar definitivamente — falou Kimberly enfatizando a palavra “definitivamente”.
A senhorita Devnau ficou olhando para a tela do notebook por alguns segundos antes de falar:
— Ficou realmente bom. Muito bom mesmo.
— É claro que ficou bom, — assegurou Kimberly com firmeza — não teria como não ficar, sendo feito por uma designer da Arts Designer. E digo, senhorita Dvenau: é bom para nós, e principalmente para você, que esse seja o último modelo de convite, porque nós temos prazos a cumprir e mesmo assim, porque o pessoal pode começar a achar que a senhorita está usando os convites como desculpa para adiar seu casamento, não é mesmo?
Os olhos verdes da senhorita Dvenau arregalaram-se, mas ela nada disse. Todos sabiam que ela estava se casando por interesse e não por amor.
— Estamos combinadas então, senhorita Dvenau? — Indagou Kimberly estendendo a mão para a jovem.
— Cl-claro — gaguejou a outra. — Está aprovado, pode mandar fazer os convites — respondeu apertando a mão de Kimberly.
— Então está bem. Gosto muito quando os clientes da Arts Designer saem satisfeitos.


Mais tarde, depois do expediente, enquanto se encontravam no lugar marcado, Brian exclamava impressionado.
— Não acredito que você fez isso! — Exclamou, enquanto tomava um gole de cerveja.
— Claro que fiz. O que mais queria que eu fizesse? A criatura não se decidia nunca! E ninguém aqui é trouxa que não saiba que ela não está nem um pouquinho feliz em se casar.
— É, mas e se ela falar o que aconteceu para o pai dela? — Perguntou Martin, outro colega de trabalho de Kimberly.
— Acha que ela vai abrir a boca? Seria uma vergonha para ela... — respondeu enquanto tomava um gole de cerveja.
A noite estava muito agradável, uma perfeita noite de terça-feira. Kimberly adorava quando saía à noite e podia sentir a brisa noturna.
            — Hum... dá para ver que você está muito bem, Kim — comentou Cristiano. 
            — É verdade, — falou enquanto espetava uma batata-frita — estou conseguindo superar isso de uma forma legal.
            — Você é muito guerreira, sabia Kim? — Comentou Evelin.
            — A gente faz o que pode — respondeu sorrindo.
            Comeram e beberam sem nada dizer, quando o silêncio começou a ficar pesado, Martin retomou o assunto.
            — Puxa, eu e os caras aqui — referiu-se a Evelin e Cristiano — achamos muito legal a atitude que teve com a Dvenau. Ninguém iria fazer melhor do que você, Kim.
            Kimberly balançou a cabeça e respondeu:
            — Não fiz nada de extraordinário, apenas fiz aquela loira burra entender que não pode ficar brincando conosco. Puxa, nós não somos como os “amiguinhos” dela, a gente trabalha duro para fazer as coisas com a melhor qualidade possível. O fato do pai dela estar toda a hora na empresa não justifica a arrogância dela.
            — É verdade — concordou Cristiano.
            Evelin e Penélope começaram a conversar sobre uma bolsa que Evelin tinha visto em uma loja do shopping, os rapazes começaram um assunto sobre a última partida de futebol do time de Cristiano e Kimberly virou a cabeça lentamente em direção a casa.
            “Quem será que morou naquela casa? E por que será que quer vender?” — Pensava absorta em seus pensamentos.
— Pois é, com uma colega de trabalho tão desligada desse jeito, eu sempre acabo falando sozinho... — a voz de Martin interrompeu seus pensamentos.
            — Que foi que você disse, Martin? — Perguntou Kimberly voltando à realidade.
            — Bah, cara... esquece. Não vai conseguir nada com a Kim desse jeito — disse Brian sorrindo.
            Kimberly sacudiu a cabeça e disse se desculpando:
            — Desculpa Martin, ando meio desligada. Não faça caso, eu já aterrisei.
            Martin bebeu um gole de cerveja e disse:
            — Bem, eu estava te convidando para sair comigo nessa sexta-feira, para irmos ao cinema.
            Ela pensou por um momento e respondeu em seguida:
            — Vamos sim, por que não?
            Os demais colegas ficaram quietos. Todos ali sabiam que Martin nutria um sentimento muito especial por Kimberly e que fazia de tudo para que ela ficasse com ele.
            — Só por favor, — começou Kimberly — não vamos ver nenhum filme maluco de guerra e nem de comédia, está bem?
            Ele sorriu, pegou a mão dela e respondeu:
            — Veremos o filme que você achar melhor. Você escolhe.
            — Hum... daqui a pouco nós vamos ter de fazer os convites de casamento desses dois, hein ? — Disse Penélope sorrindo.
            Pela expressão de Martin, estava claro que era isso que ele queria, mas não era isso que Kimberly demonstrou quando disse:
            — Acho que está meio cedo para a gente falar disso, né? — Disse delicadamente enquanto retirava a mão.
            Ela ia olhar para as unhas quando algo chamou sua atenção. Rapidamente virou o rosto em direção a casa. Tivera a nítida impressão que uma luz havia se acendido lá dentro.
            — Que foi, Kim? — Indagou Evelin.
            — Nada, não foi nada.
            Antes que mais um silêncio caísse sobre os seis, Cristiano disse:
            — Gente, nós precisamos sair mais, que acham?
            — Eu concordo — respondeu Evelin chegando mais perto dele. — A gente tem trabalhado demais e se divertido de menos. Puxa, somos novos, não é? O que vamos fazer depois que ficarmos velhos?
            — Eu vou fumar charuto e ouvir música clássica — respondeu Brian enquanto espetava uma batata-frita.
            — Acho que vou me dedicar ao ócio — disse Penélope.
            — Talvez eu e a Evelin estejamos cheios de netinhos... — disse Cristiano olhando para Evelin e a abraçando.
            Depois da declaração todos aplaudiram o que Cristiano disse e então Brian falou:
            — Puxa, depois dessa nem precisa dizer mais nada, hein? Acho que vai ser o casamento de vocês que a gente vai fazer os convites — fez uma breve pausa e perguntou. — E você, Kim, vai fazer o que quando ficar velhinha?
            Kimberly olhou para o céu estrelado e, depois de alguns segundos, respondeu de forma vaga.
            — Talvez eu não fique velha...
            — Boa resposta essa, hein? — Comentou Evelin. — Vai se matar fazendo plástica é? Para não ficar velha?
            — Não, não necessariamente isso — respondeu terminando de beber a cerveja. — Talvez eu não esteja mais viva até ficar velha... a gente nunca sabe o dia de amanhã...
            Todos ficaram quietos e ninguém ousou abrir a boca para rebater. Sabiam por que Kimberly agia daquela maneira de vez em quando, por isso a respeitavam.
            — Bem galera, tá na hora de ir embora, a gente tem que trabalhar amanhã, se lembram? — Comunicou Brian enquanto se arrumava para ir embora.
            — Puxa, é mesmo. Já são quase onze da noite! — Anunciou Evelin.
            Pediram a conta, quando esta chegou, dividiram e pagaram ao garçom. Kimberly estava colocando o casaquinho quando Martin disse:
            — Posso levar você em casa?
            Ela olhou para os olhos castanhos dele e respondeu:
            — Me leva sim, vou gostar muito.
            Os outros se arrumaram e, depois de se despedirem, tomaram rumos diferentes.
            No caminho para casa, Kimberly não falou muito com Martin, mas podia sentir que ele a olhava com atenção.
            “Poderia dar uma chance a ele...” — pensou enquanto chegava mais perto dele.
            Depois de terem descido do ônibus, Martin e Kimberly caminhavam devagar pela rua quase deserta.
            — Embora eu não trabalhe na mesma sala que você — começou Martin, meio tímido — acho que você é uma ótima profissional.
            Kimberly riu do elogio e disse:
            — Está dizendo isso para me agradar, né?
            — Não, estou falando sério mesmo. Já trabalhei em outras empresas e confesso que não vi ninguém da sua idade trabalhar como você. Parece até que você trabalha há muitos anos.
            — Bem, — ela respondeu sorrindo — trabalho na Arts Design há cinco anos, imagino que seja um bom tempo...
            Quando estavam se aproximando do prédio, Kimberly pegou as chaves na bolsa e respondeu subindo o degrau para entrar.
            — E, além do mais, é o que me resta, Martin. Tenho que me dedicar ao trabalho... não tenho mais nada, é o que sobrou.
            Ela ia colocar a chave no portão quando ele perguntou:
            — E o amor, Kim? Não tem mais lugar para ele, nem depois do que aconteceu?
            Ela suspirou, olhou bem nos olhos dele e disse:
            — Tem sim, Martin. Tem um lugar, mas talvez eu precise de mais um tempo para deixar um lugar reservado para ele, que acha?
            Ele não respondeu nada, se aproximou, passou a mão pelos longos cabelos pretos dela e a trouxe para perto de si. Abraçou-a com força. Gostaria de poder ficar com ela, de poder consolá-la, mas só podia fazer isso se ela mesma quisesse e se permitisse. Ergueu seu rosto e a beijou delicadamente nos lábios. Kimberly não ofereceu resistência, porque esperava por isso há alguns dias e sabia que, mais cedo ou mais tarde isso iria acabar acontecendo.
            — Bem, me avise então quando reservar um lugar para o amor — disse Martin com um sorriso afastando-se dela.
            — Pode ter certeza de que será o primeiro, a saber — retribuiu o sorriso e disse enquanto o olhava se distanciar. — Se cuida!


            “Eu não aprendo nunca...” — pensou Kimberly enquanto desligava a televisão — “é óbvio que não vai ter nada de legal na televisão, nunca teve...”
            Largou o controle remoto na mesa e ficou olhando para um ponto vazio a sua frente.
            Tinha total certeza de que vira uma luz se acender e apagar naquela casa ou estava vendo coisas?
            — Mas como pode ter alguém morando naquela casa se ela está vazia para vender? Será que é algum indigente? — Especulou consigo mesma.
            Levantou da cadeira e caminhou até a janela. A noite estava muito bonita e silenciosa. Já passava da meia noite, mas Kimberly não conseguia pegar no sono. A impressão de ter visto um resquício de movimento na casa a deixava intrigada.
            “A maioria das pessoas deve estar dormindo, calma e tranquilamente em suas camas... e eles também devem estar dormindo, dormindo um sono profundo e eterno...” — pensou enquanto deixava as lágrimas correrem livres pelo rosto...


Até a semana que vem,


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