segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O Ciclo das Sombras - Cap. 3/ pt. 1

Olá Queridos Leitores,

Trago mais uma parte do Ciclo hoje para vocês. Espero que gostem.




CAPÍTULO 3

Encontro


Mais uma vez, Kimberly passou pelo sono. Quando abriu os olhos e viu o relógio que havia sobre o criado-mudo, constatou que faltavam alguns minutos para que ele despertasse. Não sentiu vontade de ficar deitada até ouvir o “toque de levantar”, então resolveu sair da cama. A pasta, a chave e o envelope continuavam ali, parados, sobre o móvel como se estivessem lembrando-a que, o que ocorrera na noite anterior não fora fruto de sua imaginação.
“Vou precisar das chaves de novo” — pensou enquanto pegava a roupa que tinha separado para usar naquele dia. — Hoje vai ser um dia muito estranho — falou para si mesma enquanto entrava no banheiro para se arrumar.
Durante o banho, Kimberly tentava raciocinar sobre o que estava acontecendo com ela. Definitivamente, ela não era uma pessoa que se impressionava fácil com as coisas. Respeitava as pessoas, mas tinha de conter a vontade de rir quando as ouvia falar em signos, ascendentes e todo o resto de assuntos esotéricos. No seu entender, nada disso tinha influência na vida das pessoas, elas apenas se apoiavam nestes assuntos para tentarem explicar o motivo de seus fracassos e frustrações. “Não há nada além da vida aqui na terra.” — Pensava olhando para cima em um gesto de impaciência. Chegara a discutir algumas vezes com Penélope e Evelin quando elas afirmavam de pé juntos que o esoterismo e a magia faziam parte da vida cotidiana das pessoas. Nunca dissera francamente, mas achava que suas colegas de trabalho eram duas doidas que perdiam tempo com assuntos que não as levavam a lugar nenhum.
Mas agora... Agora Kimberly sentia-se forçada a olhar o assunto por outro ângulo. Os acontecimentos provavam que havia algo diferente e que ela sempre negara existir. Ela mesma estava sentindo algo estranho. Nos últimos dias sentia-se diferente, não sabia em quê aspecto, mas sentia-se mudada.
— Só espero não estar enlouquecendo — disse para si mesma enquanto passava as mãos no rosto para lavá-lo.
Quando se aprontou, tomou o café da manhã e saiu devagar do apartamento. Sabia que estava bem adiantada no horário, mas precisava passar na imobiliária antes de ir para a empresa. Enquanto encaminhava-se para um ponto de táxi, imaginava o que iria dizer ao gerente do turno da manhã para que ele concordasse com que ela permanecesse mais um dia com as chaves. Não seria uma tarefa fácil.

Quando saiu do táxi e se encaminhou para a imobiliária, percebeu que a mesma já estava aberta para o atendimento ao público. Com um suspiro, empurrou a porta de entrada e encaminhou-se até a recepção.
— Bom dia — cumprimentou a secretária — em que posso ajudá-la?
— Preciso falar com o gerente, porque preciso ficar mais um tempo com as chaves de uma casa. — Concluiu indicando as chaves para a secretária.
— Um momento, por favor — pediu enquanto discava um número no telefone.
Enquanto aguardava a secretária falar com alguém, Kimberly dirigiu-se até uma cadeira, sentou e guardou as chaves na bolsa. Desejava que o gerente não começasse a indagar sua atitude, pois ela não saberia o que responder a ele. Com certeza, não poderia dizer a ele que iria visitar o morador da casa que estava para vender. Soaria estranho.
— Kimberly, bom dia! — Cumprimentou Fernando tirando-a de seus pensamentos.
Ela quase saltou da cadeira com o susto que levara, não havia percebido a aproximação do gerente. Mais um ponto para adicionar à lista de mudanças que estavam ocorrendo com ela desde que se envolvera com a bendita casa.
— Não o vi chegar — desculpou-se enquanto levantava.
Fernando apertou a mão dela e esclareceu:
— Eu não iria trabalhar pela parte da manhã, mas fiz questão de vir para receber as chaves e concluir, como estou fazendo agora, que você é uma pessoa de palavra — e estendeu a mão para recebê-las.
Kimberly sorriu sem jeito e disse:
— Eu trouxe as chaves como o combinado, felizmente eu encontrei a pasta que havia esquecido, mas preciso lhe fazer mais um pedido.
Fernando ergueu as sobrancelhas demonstrando que não havia entendido o que ela lhe disse.
— Sei que parece estranho, mas preciso das chaves emprestadas novamente, somente hoje e amanhã lhe devolverei e não incomodarei mais.
Ele a analisou como se estivesse vendo uma criança pedindo um brinquedo em uma loja.
— Mas se você achou a pasta, por que quer ficar mais um dia com as chaves? Isso não é nenhuma desculpa para dizer que as perdeu, não é?
— Não — apressou-se em responder, enquanto abria a bolsa e procurava. No momento seguinte, ela mostrava as chaves para Fernando, que pareceu respirar mais aliviado. — As chaves estão aqui, como pode ver, eu não as perdi, mas é que realmente preciso voltar à casa mais uma vez, só mais uma vez. Infelizmente, não posso explicar o motivo, mas eu preciso voltar lá. Se quiser que eu deixe o dinheiro da caução, eu deixo. Deixo até cinquenta reais se for o caso, mas me ajude mais esta vez, por favor.
Ela parecia tão desesperada em retornar a casa e tão sincera em seus argumentos que ele não teve alternativa a não ser concordar com ela. Como um pai que acaba aceitando o pedido do filho, Fernando disse:
— Está bem, percebo que você está precisando mesmo voltar lá. Não há necessidade de deixar o dinheiro, mas faço um trato: ou você me devolve estas chaves amanhã, sem falta, aconteça o que acontecer, ou eu vou ter de tomar atitudes mais sérias. Está bem assim?
A resposta que Kimberly deu foi um largo sorriso.

— Obrigada, — disse apertando a mão de Fernando — não se preocupe, devolverei as chaves amanhã, no mesmo horário — e saiu apressadamente para a rua.


Até a próxima semana,


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