segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Wagner

Olá Queridos Leitores!

Hoje decidi que não iria postar somente mais um pouco do Ciclo. Queria trazer para vocês algo diferente.
Vocês sabem que eu adoro desenhar, então eu decidi que iria fazer o desenho dos personagens do Ciclo. A Kim e o o Ulrich eu já desenhei (embora esteja com vontade de fazer mais desenhos dos dois :)
Agora é a vez de apresentar o desenho que eu fiz há alguns anos do Wagner, amigo de Ulrich e médico dos vampiros.
Nossa! Esse personagem tem história :)
Esse desenho é o primeiro e único. Foi a primeira ideia que eu tive sobre o Wagner. Na verdade, o Wagner tem cabelos castanhos e olhos azuis, mas no desenho estão pretos. Achei interessante contar essa curiosidade para vocês :)
Não sei explicar direito como isso aconteceu, mas em partes do livro, o Wagner chega a ser mais importante  que a Kimberly ou o Ulrich..
Quando Wagner foi transformado, ele não teve ninguém para explicar como a vida de vampiro funcionava. Imaginem o quão difícil foi para um médico racional como ele ter de entender, sozinho, que  havia se transformado em uma criatura que ele mesmo nunca acreditou existir?
Em muitas situações da história, Wagner foi de fundamental importância para ajudar no novo caminho que Kimberly havia escolhido para acompanhar Ulrich pela eternidade.
Wagner ajudou muito o casal apaixonado e, apesar de passar a impressão de ser um vampiro frio e cruel, ele sempre foi muito fiel à amizade que tinha com Ulrich e sempre foi como um professor e protetor para Kimberly.



Hoje fico por aqui. Um grande abraço a todos.
Como sempre peço, deixem suas opiniões e comentários. Estão gostando da história? Até o momento, qual a parte que mais chamou a atenção de vocês?
Um abraço para todos e um Feliz Natal!



O ciclo das sombras - Cap. 3/ pt. 4

Olá Queridos Leitores,

Hoje é dia de postar mais uma parte do Ciclo para vocês!

Cap. 3/pt. 4

Ele não respondeu de imediato e ela acreditou que ele não teria ouvido a pergunta, porque nem ela mesma ouvira direito o que dissera.
Ja, du kannst gehen (sim, você pode ir) — respondeu sem se virar.
Kimberly não entendeu o que ele disse, mas deduziu que ele respondia positivamente. Ela ia dar um passo para ir embora quando se deu conta que ele estava parado bem ao lado da porta de saída. Hesitou, pois sabia que teria de passar por ele para sair.
— Pode passar — ele disse de repente, como se adivinhasse os pensamentos dela. — Não precisa se preocupar... o perigo já passou.
Ela engoliu em seco e caminhou desconfiada, apertou a pasta e as chaves com tanta força contra o peito que temeu amassar e estragar os papéis importantes do projeto. Parou exatamente ao lado dele e o observou. Ele continuava impassível, olhava fixamente para a parede branca à frente e mantinha os braços cruzados.
— Bem, — começou indecisa, sabia que não havia lógica em perguntar novamente, mas precisava se certificar — posso ir? — Questionou olhando para ele.
Ulrich virou a cabeça devagar e Kimberly viu o brilho verde azulado de novo nos olhos dele. Ele estava calmo agora, mas parecia um pouco triste.
— Sim, pode ir. Você é livre para decidir se quer ficar ou se quer ir... — suspirou e disse. — Livre-arbítrio...
Por um instante, ela acreditou que ele viria em sua direção, mas se enganou quando percebeu que ele continuou parado onde estava.
— Obrigada — respondeu por fim enquanto abria a porta para sair.
Assim que fechou a porta atrás de si, começou a caminhar cada vez mais rápido e então saiu do terreno da casa correndo como louca e só parou de correr quando chegou ao ponto de ônibus. Estava com o coração aos saltos e tentava normalizar a respiração, mas não conseguia. Tinha visto coisas demais em uma só noite. Aquilo, com certeza, não podia ser verdade, estava fora demais da realidade e ela não conseguia e não queria aceitar os fatos. Baseada na razão e na lógica, Kimberly não queria concordar com o que acontecera.
— É tudo fruto da minha imaginação. Estou trabalhando demais e estou estressada, só isso — falava sozinha, tentando se convencer do que dizia. — Ele é apenas alguém normal que mora em uma casa que está para vender. O sonho que eu tive com ele, antes de conhecê-lo, foi coincidência, nada mais. — Fez uma breve pausa e concluiu. — E eu não vi a cor dos olhos dele mudar. Não vi!
Fechou os olhos com força como se isso fosse fazer tudo sumir como num passe de mágica. Respirou fundo algumas vezes e, quando abriu os olhos estava mais calma. De repente, se deu conta de que a avenida estava muito silenciosa e deserta. Normalmente, havia um bom fluxo de carros à noite. Estranhou tal fato e olhou para o relógio sobressaltando-se ao constatar que eram quase duas horas da manhã. Como o tempo passara tão rápido, ela não sabia e também achava que não queria saber. Aliás, a única coisa que ela queria, naquele momento, era chegar em seu apartamento e tomar um copo com água e muito açúcar para tentar se acalmar. Uma boa noite de sono, se ela conseguisse dormir, também seria um santo remédio.
Agora que estava “mais calma”. Kimberly começou a se preocupar com outra coisa: o último ônibus havia passado há uma hora e ela teria de encontrar um táxi se quisesse chegar em casa.
Olhou para os dois lados da avenida em busca de um táxi, mas parecia que só ela estava na rua àquele horário. Vasculhou apressadamente a bolsa em busca do celular e constatou que ele não estava na bolsa. Provavelmente, ela o havia esquecido em sua mesa de trabalho.
— Porcaria! Como é que eu vou para casa agora? — Perguntou em voz alta e depois se encolheu, porque quase havia gritado, mas depois achou a preocupação sem sentido, já que só ela estava ali.
A ideia de voltar a casa lhe veio à mente, mas ela a descartou rapidamente. Não iria voltar lá nunca mais. Não iria ficar imaginando coisas, assustando-se e enlouquecendo aos poucos. Ela iria cortar o mal pela raiz.
— O que é que eu vou fazer? — Perguntou para si mesma, começando a ficar muito preocupada.
Decidiu por caminhar até a próxima parada. Na certa, haveria outras linhas de ônibus mais à frente. Com sorte, ela encontraria um ponto de táxi no caminho.
“Droga, essa região não é muito segura, ainda mais nesse horário...” — pensava enquanto acelerava o passo. O fato de estar com sapatos de salto alto dificultava e atrasava a caminhada, sem falar que o barulho dos saltos ecoava como tambores na avenida deserta. — “Como foi que eu consegui correr pra longe da casa com esses sapatos? Se eu soubesse que isso ia acontecer, na certa teria vindo com um tênis...”
Terminou o pensamento sorrindo, pois se imaginou com o terninho azul que estava usando e calçando tênis brancos. O conjunto ficaria uma maravilha. Continuou caminhando, sorrindo e balançando a cabeça, mas o momento de descontração não continuou por muito tempo, pois Kimberly acabara de ouvir passos atrás dela. Rapidamente, olhou para trás e constatou que havia dois homens caminhando rapidamente em sua direção. Um frio desagradável passou por seu estômago e, naquele momento, ela percebeu que se encontrava em uma situação muito perigosa. Tentou apressar ainda mais o passo, mas estava difícil com os sapatos de salto. Olhou novamente para trás e constatou que a distância entre ela e os homens estava diminuindo rapidamente.
“Preciso achar um táxi!” — Pensava desesperada. — “Um maldito táxi!” — Olhava para todos os lados, mas só encontrava o vazio. Exceto os dois homens que se aproximavam dela, a avenida estava deserta.
Ela percebeu que eles também aceleraram o passo e, por um momento, ela pensou em parar e deixá-los passar, mas sabia que, se parasse, eles não iriam passar por ela, iriam querer alguma coisa dela.
“Assaltantes!” — Concluiu enquanto apertava a pasta contra o peito. Estava mais preocupada em proteger a pasta do projeto do que proteger a si mesma.
— Ei, moça! — Gritou um deles. — Queremos uma informação!
Então, Kimberly disparou correndo e pôde ouvir que eles corriam também. Não havia saída, seria assaltada e eles levariam tudo o que era importante para ela. Tropeçou, quase caiu e decidiu tirar os sapatos, pelo menos, estando descalça, poderia correr mais rápido. Foi em uma fração de segundos. Ela parou para tirar os sapatos e a distância entre ela e os homens diminuiu em um piscar de olhos. Quando ela ia recomeçar a correr, um deles conseguiu pegar seu braço, fazendo-a parar e se virar para ele. A força com que ele segurou o braço de Kimberly fez com que ela gritasse de dor.
— Não precisa correr, moça — disse o outro rindo maliciosamente — nós só queríamos uma informação...
— É — concordou o homem que segurava o braço dela cada vez mais forte — só uma informação — terminou puxando-a mais para perto.
Quando chegou perto do homem que segurava o seu braço, precisou conter a ânsia de vômito, pois ele exalava um fortíssimo cheiro de álcool e cigarro.
Ela tentou se soltar, mas acabou fazendo com que ele apertasse mais ainda seu braço.
— Ai...meu braço — gemeu de dor.
O outro homem chegou perto e disse com raiva na voz.
— Cala a boca agora! Ou você vai dar o que nós queremos ou vamos acabar com você agora mesmo!
— Mas... mas eu não tenho nada! — Falou desesperada, tentando evitar as lágrimas que começavam a sair. Estava horrorizada.
— Você que pensa que não tem — disse o homem que segurava o braço dela. Puxou Kimberly mais para perto de si e lhe disse sorrindo. — Você tem um monte de coisas que nos interessam, não é Alberto? — Perguntou ao outro que respondeu enquanto se aproximava e pegava uma mecha dos cabelos dela.
— É verdade, tem muita coisa para oferecer — disse e puxou os cabelos dela com força.
O puxão que ele deu foi tão brusco que fez com que a cabeça dela pendesse para trás, causando-lhe mais dor.
— Por favor... me... me solte — pedia com a voz entrecortada pela dor. — Levem a minha bolsa, mas me deixem em paz! Por favor! — Pediu chorando.
— Eu já mandei calar a boca! Quem manda aqui sou eu! — disse Alberto.
Rapidamente, ele puxou os cabelos de Kimberly com mais força para trás e os soltou. Automaticamente, ela inclinou o corpo para trás e quando voltou à posição normal, ele lhe deu um forte soco na maçã do rosto, fazendo com que Kimberly perdesse o equilíbrio e caísse de costas no chão.
Ela não esperava por isso e, quando recebeu o soco no rosto, perdeu os sentidos por alguns segundos. Quando caiu de costas, bateu com a cabeça no chão. Podia tentar levantar, mas desistiu e ficou deitada. Estava tão cansada e exausta daquela situação toda que, se morresse naquele momento, ficaria feliz.
— É, — disse Alberto para o homem que segurara o braço de Kimberly — agora sim, ela vai cooperar conosco.
— É bem por aí, Caio — gritou o outro apoiando a atitude do amigo — a gente tem que mostrar quem é que manda!
Riram, disseram mais algumas baboseiras sobre quem é que coordenava a situação e então Caio disse, em tom menos debochado e mais ameaçador:
— Agora está na hora de você nos dar a informação que queremos — disse e começou a se aproximar dela.
“Meu Deus,” — pediu Kimberly — “não acredito no que meus olhos não podem ver, mas peço de coração, que me ajude. Envie o meu Anjo da Guarda para me tirar daqui...” — terminou o pensamento e começou a lutar para não cair na inconsciência, pois sentia que não iria conseguir se manter acordada por muito mais tempo. Era questão de segundos para acabar desmaiando.
— Acho que ela desmaiou — falou Alberto.
— Que nada! Está bem acordada — respondeu Caio ajoelhando-se diante dela.
Kimberly virou a cabeça para o lado contrário a ele. Não queria ver mais nada, só queria sair dali, mas não tinha noção de como faria isso. Fechou os olhos e sentiu as lágrimas quentes escorrendo pelo lado do rosto machucado.
De repente, ela ouviu um rosnado ameaçador e ouviu Alberto gritar. Em seguida, Caio sumiu de perto dela. Lentamente, Kimberly virou a cabeça na direção em que os homens estavam e o que viu a deixou-a mais apavorada ainda. Ulrich estava lá, a alguns metros de distância de onde ela estava caída. Segurava Alberto pelo pescoço e o erguia do chão com tal facilidade que o fazia parecer com um boneco de pano. Kimberly pôde ver que Alberto debatia-se tentando se soltar, mas não conseguia. A mão de Ulrich fechou-se em torno do pescoço dele como se fosse uma coleira de ferro.
Was hast Du getan? (o que você fez?) — Vociferou Ulrich enraivecido. — Realmente você não preza a vida que tem!
Com certo esforço, Kimberly começou a se erguer. Tomava muito cuidado para levantar devagar, evitando provocar uma nova tontura, perder o equilíbrio e cair novamente.
Ulrich parecia não ter notado que ela estava se mexendo. Ele estava completamente focado nos dois assaltantes. Para Kimberly era isso que ela percebia, mas para Ulrich era diferente. Ele conseguia captar todos os detalhes da cena. Segurava Alberto pelo pescoço e tinha total ciência de Caio, meio desacordado, encostado na parede quando fora arremessado contra ela e também conseguia perceber todos os movimentos lentos e cuidadosos de Kimberly, desde o momento em que ela virara a cabeça para a parede até o momento em que ela se levantara, pegara a pasta do chão e se encostara à parede para evitar cair de novo. Naquele momento, ele desejou que ela tivesse desmaiado para que não presenciasse o que ele iria fazer. Ela ficara tão assustada antes, quando ele estava sobre ela no sofá, que ele não queria amedrontá-la ainda mais com o que estava por vir. Mas era um mal necessário e ele precisava protegê-la.
Kimberly respirou fundo mais uma vez e se afastou da parede, buscando o equilíbrio sem apoio. Quando se sentiu segura para ir embora, ouviu a voz de Caio que recobrara a consciência e tentava se levantar.
— Ah! Aí está você, mocinha — disse com a voz um pouco enrolada — você não vai embora antes de me dar o que eu quero!
Instintivamente ela deu um passo para trás e, no mesmo instante, ouviu aquele rosnado de novo. Olhou rapidamente para os lados buscando o animal, provavelmente, um cachorro que estava fazendo tal barulho, mas não havia nenhum cachorro por perto, só ela, os homens e Ulrich. Então, ela retesou o corpo em estado de alerta quando concluiu que fora Ulrich quem emitira o som. Balançou a cabeça de um lado para o outro tentando negar a associação, mas não havia como. Estava claro demais.
— Vou até aí, pegar você! — Gritou Caio com raiva, tentando se levantar.
— Não vai não! — Ordenou a voz estranha de Ulrich.
Kimberly ficou pregada ao chão, não conseguiu mais se mexer. Estava consciente demais e, mesmo não querendo, registrou toda a cena em sua mente.
Viu Caio apoiando-se à parede para tentar se levantar, mas não conseguiu, porque Ulrich, sem soltar Alberto, aproximou-se dele e com a mão livre erguida acima da cabeça, em um gesto muito rápido e quase imperceptível, traçou uma linha em diagonal que passou pelo rosto e pelo peito de Caio. À princípio, nada aconteceu, mas no instante que se seguiu, Caio passou as mãos pelo rosto e as olhou horrorizado, pois elas estavam manchadas de sangue. Baixou a cabeça para o peito e percebeu que a camisa que estava usando estava rasgada em quatro linhas diagonais e o sangue começava a manchá-la. Em um gesto desesperado, Caio rasgou mais a camisa e gritou quando viu quatro cortes profundos em seu peito.
Ao presenciar tal cena, Kimberly abriu a boca para gritar, mas o som não saiu então ela arregalou os olhos quando viu Ulrich colocar Alberto no chão, sem soltá-lo e, em um gesto simples e preciso, morder o pescoço dele.
Kimberly segurou a pasta com mais força contra o peito e murmurou:
— Um canibal... ele é um canibal...
Por instinto, ela deu meia volta e disparou correndo para frente. Não sabia como conseguia correr, mas achava que a adrenalina era uma boa explicação para tal feito.
Assim que se virou para correr, ela o ouviu dizer:
Ist Lüge... (é mentira...).
Porém, Kimberly não entendeu o que ele disse e tampouco quis entender. Continuou correndo como uma louca pela rua deserta. Estava desesperada e queria ir embora a qualquer custo. Já não sabia mais para onde estava correndo, pois não conseguia ver direito por causa das lágrimas que teimavam em sair, turvando-lhe a visão. Agora, corria pelo puro e simples instinto de sobrevivência. Entrou em uma rua e quase foi atropelada por um carro que estava dobrando a esquina. Com a surpresa, o carro buzinou para ela e Kimberly parou imediatamente. Com um sorriso bobo nos lábios, ela constatou que, milagrosamente, era um táxi que quase a atropelara.
Parou com as mãos no capô do carro e pediu ao motorista.
— Pode me levar para a casa, por favor?
O motorista respondeu que sim e, quando Kimberly embarcou no carro, ele perguntou antes de arrancar.
— Moça, precisa de alguma ajuda? Está machucada, gostaria que eu a levasse ao pronto-socorro?
Kimberly balançou a cabeça e respondeu:
— Não, eu estou bem... só preciso ir para casa, por favor.
— Tem certeza que não quer que eu a deixe no hospital? — Perguntou preocupado.
Kimberly passou as mãos pelo rosto para limpar as lágrimas e disse:
— É sério, estou bem, só me deixe na Rua Santo Antônio, por favor.
— Tudo bem, você quem sabe — disse o motorista dando o assunto por encerrado.
Assim que o táxi estacionou em frente ao prédio, Kimberly pagou a corrida e saiu rapidamente do veículo.
— Boa noite — disse o taxista enquanto a observava correr até o portão de entrada, deixar as chaves caírem, pegá-las, abrir o portão e disparar correndo pelo interior do prédio.
“Puxa” — pensou o taxista intrigado — “ela deve estar com um grande problema. Tão nova... que pena” — e arrancou o carro, seguindo pela rua deserta.
Kimberly não conseguia mais atinar o que estava fazendo, não coordenava mais os movimentos. Também não conseguia ver as coisas direito por causa das lágrimas que continuavam saindo, dificultando sua visão. Além disso, havia a forte dor de cabeça e a tontura que ela começa a sentir. De vez enquando, a visão dela escurecia e pontos brilhantes surgiam.
“Eu não vou conseguir”, — pensou enquanto se apoiava à parede esperando pelo elevador — “vou desmaiar aqui mesmo.”
Logo em seguida, o elevador chegou e ela cambaleou para dentro. Parecia uma jovem que havia bebido demais em uma festa. Contou os minutos para sair do elevador, estava começando a enjoar e temia vomitar a qualquer momento. Quando a porta abriu, Kimberly correu para o número 506. Desajeitada, conseguiu encontrar a chave para abrir a porta, ia colocá-la quando deixou o chaveiro cair novamente e quase perdeu o equilíbrio quando se abaixou para pegá-lo. Quando se ergueu, seu coração parou por um segundo. Ela não estava mais sozinha: Ulrich esta ali, ao seu lado.
Sem pensar, ela abriu a porta do apartamento o mais rápido que pôde. Sua respiração começou a acelerar de novo, ela ia gritar quando ele se aproximou dela, tapou-lhe a boca para que não gritasse e a empurrou para dentro do apartamento, fechando e chaveando a porta. Ele fez tudo tão rápido que, para Kimberly, não levou mais do que um segundo.
Ela ainda conseguiu ouvir a voz dele sussurrar em seu ouvido, enquanto finalmente caía na inconsciência.

— Agora sim, você pode desmaiar Meine Prinzessin (minha princesa).


Fico por aqui hoje. Espero que tenham gostado.
Mandem suas opiniões.
Feliz Natal para vocês :)



segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Eu, escrevendo

Olá Queridos Leitores!!

Espero que tenham gostado da continuação da história do Ciclo.
Gostaria muito de saber a opinião de vocês. Vou postando, postando, mas não tenho retorno. 
Vocês sabem que um escritor, sem leitor, não é nada. Assim como uma Biblioteca, sem usuário também não tem fundamento algum, então, quando puderem, comentem... é importante para mim.
Coloquei duas fotos que tirei neste final de semana quando estava escrevendo uns poemas para os outros blogs que tenho e achei interessante postar aqui.
Me sinto tão feliz quando estou escrevendo... é o que eu mais gosto de fazer :)



Até segunda-feira que vem e lembrem-se: comentem, opinem, pois é dessa forma que eu posso fazer meu trabalho cada vez melhor, que é escrever, para vocês.
Um abraço!



O Ciclo das sombras - Cap. 3/ pt. 3

Olá Queridos Leitores,

Hoje é dia de postar mais um pouco do Ciclo das Sombras para vocês.
Espero que gostem :)

Cap. 3/ pt. 3

       Assim que se despediu dos colegas, no final do expediente, saiu praticamente correndo da empresa em direção a um ponto de táxi próximo. Forneceu o endereço ao motorista e lhe pediu que fosse rápido, pois estava atrasada para um importante compromisso.
         “Mais uma mentira em minha coleção” — pensou tristemente.
        Quando o táxi a deixou no endereço solicitado e desapareceu mais adiante na curva, Kimberly imediatamente pegou as chaves na bolsa e tratou de entrar o mais rápido que podia na casa.
         Abriu o portão de ferro com mais facilidade desta vez e, com o coração aos saltos, encaminhou-se para a porta de entrada na qual abriu após girar a chave uma só vez.
            A sala estava às escuras e ela caminhou até o interruptor para acender a luz. Após o “clic”, ela ouviu a voz grave atrás dela.
            — Gute Abend, meine Prinzessin. Wie geht es Ihnen heute (boa noite, minha princesa. Como está hoje?)
            Desta vez, Kimberly não se assustou, nem saiu correndo. De alguma forma, ela já esperava por isso. Era óbvio. Era por isso que ela fora até a casa, para falar com o “homem misterioso”.
            Lentamente, ela se virou e seus olhos castanhos encontraram-se com os olhos verdes azulados dele.
            — Infelizmente, eu não falo alemão — conseguiu dizer antes que sua respiração começasse a ficar irregular. Ele era lindo demais e ela não conseguia permanecer normal diante dele.
             — Entschuldigung, meine Liebe. (Desculpe, minha querida) — respondeu e, após alguns segundos, ele continuou a falar mais devagar, mas em português. O sotaque dele era tão forte que, mesmo ele falando no mesmo idioma dela, Kimberly ainda tinha certa dificuldade em entender o que ele queria dizer. — Vou tentar de novo — disse sorrindo de um jeito que fez com ela suspirasse. — Eu pedi desculpas à você. Não queria assustá-la.
            Kimberly estreitou os olhos e respondeu enquanto cruzava os braços:
            — Você é bem estranho. Consegue aparecer de lugares do qual a gente menos espera.
            Em seguida, ela se afastou dele e foi até um sofá, onde largou a bolsa, a pasta e as chaves da casa.
            — Bem, vim aqui porque preciso de algumas explicações. Como conseguiu me deixar em casa? Como sabia meu endereço e como é que eu pude sonhar com você sem nunca tê-lo visto antes?
            Ele cruzou os braços, encostou-se na parede e respondeu com o fortíssimo sotaque alemão:
            — Ich (eu)...  — parou porque se deu conta que novamente estava falando em alemão — eu vasculhei em suas coisas e encontrei o endereço. As chaves do apartamento estavam na bolsa, war nicht schwer (não foi difícil).
            A resposta não a convenceu de forma alguma, mas ela também não se sentia disposta a questionar mais. As coisas estavam indo para uma direção muito esquisita e Kimberly não estava gostando nada daquilo.
            — Olha, — começou sem jeito — eu voltei aqui porque queria dizer que amanhã vou entregar as chaves da casa à imobiliária e que vou deixar de vir aqui. Esta situação está ficando fora de controle e eu não estou sabendo como resolvê-la, eu... — não conseguiu terminar a frase. Ele havia se afastado da parede e caminhava lentamente em sua direção.
            “Esse homem não existe” — pensou ela começando a ofegar novamente — “não é real e eu estou aqui, de novo, provavelmente tendo mais um de meus sonhos malucos”.
            — Com relação a isso — disse ele calmamente — não há problema, porque eu tenho uma cópia das chaves da minha casa. — Disse reforçando a palavra “minha”. — Você pode entregá-las para o gerente da imobiliária e usar estas. — Estendeu a mão com um chaveiro. — Aliás, você disse que vai entregá-las amanhã, nicht wahr (não é)?
            Kimberly não compreendeu a última palavra, mas deduziu que ele estava confirmando o que dissera antes.
            — Sim, eu vou entregar as chaves amanhã bem cedo e não vou voltar mais aqui — falou enquanto contornava o sofá e dava alguns passos para trás para evitar a aproximação dele.
            — Mesmo se eu der as minhas chaves para você? — Questionou ele, de repente, muito próximo dela. Como ele conseguira isso sem que ela notasse?
            — Eu, hã... — gaguejava sem saber o que dizer — não posso, esta casa está para vender... você não... você não pode dar as chaves para mim — disse tentando ordenar o raciocínio. — Imagino que nem você deveria estar aqui! A casa está para vender! — Terminou enquanto tentava se afastar dele.
            Ele sorriu de forma misteriosa, como fizera nos sonhos dela e respondeu:
            — Stimmt (verdade). Mas estou pensando seriamente em abandonar a ideia de me mudar daqui e vender a casa.
            Kimberly tinha acabado de encostar as costas na parede do outro lado da sala. Não havia mais saída.
            — Bem, independente disso, eu vou devolver as chaves e não vou voltar mais aqui. As coisas estão ficando fora de controle. — Disse tentando sair pelo lado esquerdo, pois ele estava bloqueando sua passagem.
            — Ausser Kontrolle (fora de controle)? — Ele questionou divertido. — Não há nada fora de controle por aqui. Você não tinha um grande desejo de ver como era a casa por dentro? — Questionou parando de caminhar. — Não era você que, toda a vez que passava de ônibus em frente à minha casa, se torcia toda para olhar até o último momento? Agora que você conseguiu o acesso a ela, não quer mais voltar aqui? Ich kann das nicht verstehen... (eu não consigo entender).
            Kimberly abriu a boca para revidar, mas não conseguiu. Ele estava certo. Ela fizera de tudo para se aproximar e saber mais sobre a moradia e agora que obtivera acesso e conseguira falar com o proprietário, não queria dar continuidade à situação. Fechou a boca e ficou quieta, não sabia o que dizer a ele.
            Ele baixou a mão que segurava o chaveiro e falou enquanto voltava a caminhar na direção oposta a ela. Quando estava distante parou para perguntar:
            — Isto é um presente para você. Tem certeza de que não vai querer ficar com as chaves? Depois você não vai mais poder entrar aqui... ─ disse enquanto erguia o chaveiro em direção a ela.
            Kimberly permaneceu parada. Seus olhos iam do chaveiro que ele segurava aos olhos brilhantes dele.
            “Gato” — pensou Kimberly de repente — “os olhos dele parecem olhos de gato.”
            No momento seguinte, ele baixou novamente a mão que segurava o chaveiro e disse com um tom triste na voz.
            — Wie traurig... (que triste...) Sendo assim, guardarei as chaves e as levarei comigo quando eu me mudar. Creio que não há mesmo motivo nenhum para eu permanecer por aqui então, ainda mais agora que há uma pessoa muito interessada em comprar a casa. — Suspirou e concluiu. — Hier hält mich nichts mehr (não há nada que me prenda aqui).
            Ele ia se virar para sair da sala quando Kimberly falou.
            — Espere! — Seu coração estava aos saltos, não conseguia entender o que estava fazendo. Provavelmente, estava no “piloto automático” e estava tomando esta atitude por impulso. “Bem,” — pensou consigo mesma, enquanto o observava parar para ouvir o que ela tinha a dizer — “se eu estiver agindo por impulso, que seja. Não corri tanto até aqui para simplesmente desistir no meio do caminho.” — Espere! — Disse novamente, agora mais calma. — Eu agradeço o presente — referiu-se ao chaveiro. — Seria uma grosseria não aceitá-lo — concluiu estendendo a mão na direção dele.
            Ele apertou mais a mão em torno do chaveiro e lançou a Kimberly um sorriso enigmático, que transmitiu a ela algo como se ele estivesse lhe dizendo: “Viu? Eu sabia que você não iria embora, não agora.”
            Depois que falou, Kimberly juntou as mãos em frente ao corpo e ficou imóvel, esperando pela reação dele. Como ele continuou parado, ela aproveitou para fechar os olhos e respirar fundo, precisava se acalmar. Seu coração batia tão depressa que ela temia ficar tonta e perder o equilíbrio a qualquer momento.
            Quando abriu os olhos, ele estava muito próximo dela.
            “Como ele se movimentou sem fazer um único ruído?” — Pensou arregalando os olhos de surpresa.
            Por instinto, ela tentou dar um passo atrás para se afastar, mas não podia, porque já estava encostada na parede. Ele sorriu, segurou o braço dela com a mão livre e disse:
            — Não há motivos para fugir. Eu não vou morder você — disse a última frase de um jeito tão estanho que Kimberly se encolheu de medo. Ela não sabia como, mas havia pressentido que ele quisera dizer algo mais naquela simples frase.
            — Bem... — disse com o tom de voz quase inaudível — imagino que não vá mesmo...
            Ele sorriu enigmaticamente e desceu a mão pelo braço dela, que se encolheu instintivamente de frio. A mão dele era muito gelada. Em seguida, ele segurou a mão dela e lhe passou o chaveiro.
            — Pronto, agora que você tem as chaves da minha casa, pode me visitar todos os dias, richtig (certo)?
            “Além de misterioso, ele é persuasivo também” — pensou Kimberly seriamente.
            Assim que ele entregou o chaveiro, afastou-se dela e comentou enquanto sentava-se no sofá:
            — E então?
            — Então — questionou sem entender ao que ele estava se referindo.
            — Não vai me explicar o motivo de tanto interesse nesta casa velha?
            — Eu... hã... eu é... — gaguejava como uma adolescente boba. Nunca tivera problemas em falar com as pessoas e agora, parecia não ter palavras em seu vocabulário para conversar com ele.
            — Ja, ich hoffe...  (sim, eu espero).
            “Como eu odeio quando faço isso” — pensou tentando se controlar. Já percebera que ficava sem ação toda a vez que estava na presença dele. Fosse em sonho, fosse na realidade.
            Deu um passo à frente para ir até o sofá e sentiu uma tontura tão forte que teria ido ao chão se não fosse ele a segurar. Imediatamente, todo o torpor que Kimberly estava sentindo sumiu e ela começou a falar em um misto de raiva e indignação, por não poder controlar as coisas esquisitas que aconteciam ao seu redor.
            — Chega! — Falou alto demais. — Isso já passou dos limites! — Disse enquanto desvencilhava-se dos braços dele. — Você é mágico ou algo do gênero. Estava sentado no sofá, eu vi! E não havia tempo suficiente para chegar até onde eu estava e evitar que eu caísse! — Ela não falava mais, gritava.
            Ele não respondeu nada, apenas se afastou um pouco e ficou a observando expor seus sentimentos.
            — Não consigo entender isso! — Dizia enquanto caminhava pela sala e ele a acompanhava com o olhar. — Logicamente isso não existe! Você surge do nada e se movimenta rápido demais para uma pessoa normal! Sem falar que não explicou o fato de ter me levado em casa sem saber onde eu morava, porque eu não tenho o meu endereço em nenhum lugar na minha bolsa! E o simples detalhe de você ter surgido em meus sonhos sem eu tê-lo visto uma única vez em minha vida!
            Ele permanecia em silêncio, observando Kimberly falar sobre o seu descontentamento da situação.
            Quando ela se calou, ficou olhando para ele na esperança de que fosse receber alguma resposta, mas ele continuou quieto, o que fez com que ela ficasse ainda mais irritada.
            — É incrível, — ela disse começando a caminhar de um lado para o outro — eu fico aqui, como uma boba, falando e falando e você não diz uma palavra. Se mete em minha vida, bagunça minha rotina — enquanto falava, Kimberly ergueu os braços e prendeu os longos cabelos em um coque, fazendo um nó com eles. No mesmo momento que ela fez isso, Ulrich rapidamente recuou alguns passos como se houvesse algo nela que o colocasse em estado de alerta. Imediatamente, ele ficou imóvel.
            Ela não percebeu a mudança dele e continuou falando enquanto andava pela sala.
            — Invade a minha privacidade, povoa meus sonhos e faz com que tudo o que eu sempre acreditei comece a ruir diante de mim. Quem, afinal de contas, é você! — Terminou com a respiração acelerada.
            Ele não se moveu um milímetro sequer. Permaneceu imóvel como uma estátua de mármore olhando para ela.
            Kimberly parou de caminhar e disse para ele enquanto cruzava os braços:
            — Você realmente é muito estranho. Ou fica se mexendo rápido demais e surgindo de onde se menos espera ou fica aí, imóvel feito uma estátua, sem dar sinal de vida. O que há com você, por que não responde? — Questionou enquanto inclinava a cabeça levemente para o lado esquerdo.
            Agora que ela estava parada, observando-o, é que pode ver melhor. Ele não estava simplesmente imóvel como uma estátua, ele havia assumido uma postura de alerta e de algo mais. Kimberly tinha certeza de ter visto esta postura em algum lugar, em algum momento, mas não estava conseguindo lembrar onde fora que a vira antes.
            A fração de segundo que transcorreu até Kimberly resgatar na memória onde havia visto o comportamento foi rápida demais e, quando ela se deu conta, estava deitada no sofá e ele estava sobre ela, olhando-a muito sério. Como ela fora parar no sofá, não tinha a menor ideia, mas sabia agora de onde reconhecera a pose dele. Fora a algumas noites atrás, enquanto tentava encontrar na televisão algum programa que prestasse que viu a cena.  Viu um programa sobre o reino animal, que versava sobre pumas e como eles agiam quando estavam prestes a atacar suas presas. A imagem do puma alerta, atento e imóvel, calculando qual a forma mais rápida e certeira de agarrar a presa encaixou-se perfeitamente com a posição assumida por ele. Imediatamente o pavor tomou conta de Kimberly e ela desejou nunca ter posto os pés naquela casa. Queria desesperadamente sair dali a qualquer custo.
            Ele ainda continuava sobre ela. Não havia mais aquele semblante amistoso em seu rosto. Ele estava sério demais, seus olhos estavam mais escuros e pareciam inexpressivos, como se olhassem através dela.
            A casa estava tão silenciosa que Kimberly conseguiu ouvir as batidas do próprio coração. Cada vez que ele bombeava o sangue pelo seu corpo, Kimberly podia sentir as batidas em seu ouvido como se, naquele momento, o coração dela fosse um tambor de uma banda escolar.   Fechou os olhos por alguns segundos para tentar se acalmar e buscar, quem sabe, uma lógica para tudo o que estava acontecendo. Quando abriu os olhos, a situação não melhorou muito, porque ele continuava ali, parado sobre ela, olhando-a fixamente e, seus olhos que antes eram de um verde azulado brilhante, agora estavam escuros, pretos como azeviche. De repente, os olhos dele tornaram-se mais claros, mas não voltaram à cor maravilhosa e brilhante de antes e ele disse com uma voz que Kimberly não reconheceu. Parecia outra pessoa falando, não ele.
            — Ah... se você soubesse o que causa... com certeza não teria feito isso — disse com pesar na voz. Olhou nos olhos castanhos dela e pôde ver o medo e o pavor que ela sentia. De forma alguma queria assustá-la, mas não havia como evitar, estava em sua natureza.
Devagar, para que ela não ficasse ainda mais assustada, ele passou a mão pelo rosto dela, que se encolheu quando sentiu o toque frio em sua pele. Depois, ele inclinou a cabeça em direção ao rosto dela, encostou os lábios nele e o beijou. Enquanto beijava o rosto dela, ele percebia o quanto ela estava apavorada. Podia ouvir o coração dela bater forte no peito, bombeando o sangue para o resto do corpo e conseguiu ouvi-lo correr em suas veias. Podia sentir o perfume que emanava dela, tão doce, tão inebriante, tão convidativo e que, por ser puro e intocado, se tornava ainda mais forte e poderoso. Ele quase não conseguia se conter, precisava de um autocontrole muito além do que estava acostumado ter. Lentamente, ele afastou os lábios do rosto dela e os deslizou por seu pescoço.
Nesse momento, Kimberly prendeu a respiração quando sentiu o toque dos lábios dele. Ele estava tão gelado que ela começou a ficar com muito frio.
— Se você não tivesse prendido os cabelos... — ele murmurou ainda beijando o pescoço dela — Wäre dies nicht passiert... (isto não teria acontecido...)
Então, ela fechou os olhos com força e implorou para que nada de ruim acontecesse com ela. Ainda era nova, tinha tantas coisas para fazer na vida. Não podia terminar seus dias dessa forma. Tinha seu tio para cuidar.
“Também,” — pensou desesperada — “por que raios me meti nisso? Há tantos loucos por aí... eu e minhas ideias malucas, o cara pode ser um assassino! Se acontecer alguma coisa, bem feito para mim!”
Ele inspirou o perfume dela mais uma vez para memorizá-lo e então disse enquanto saía de cima dela.
— É preciso uma grande força de vontade para não seguir adiante. Du bist sehr vollkommen (você é muito perfeita).
Kimberly continuou por algum tempo de olhos fechados. Tinha receio de abri-los e se deparar com ele próximo demais dela.
O silêncio que se seguiu pareceu uma eternidade. Lentamente, ela abriu os olhos e constatou que Ulrich não estava mais ali. Ele estava afastado dela, quase no outro lado da sala, de costas. Levantou-se cautelosa do sofá e percebeu que estava tremendo quando foi pegar a pasta, a bolsa e as chaves e olhou para as mãos.
Após ter julgado que, desta vez, não esquecera nada. Disse com a voz fraca e muito baixa:
— Posso... posso ir embora?



Até segunda-feira que vem.
Deixem suas opiniões e comentários, pois são muito importantes para mim :)



segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Do fundo do baú...

Olá Queridos Leitores!!

Hoje, revendo algumas fotos de três anos atrás, encontrei uma grata surpresa: uma foto de quando eu fui à praia (não pelo fato de ir à praia, pois não gosto de praia e sol... sou noturna) e estava revisando meu livro A ilha. 
Marquei na foto a ilha que deu origem ao meu livro. A visão em que a foto foi tirada é a mesma visão que a Melina (personagem principal do livro) tem da ilha onde o Christopher (personagem também principal) mora.
Puxa, que alegria rever uma foto dessas. Trás tantas lembranças... boas, mas só da parte da revisão do livro mesmo.



Por hoje era só.... se eu encontrar mais fotos "nostálgicas" eu posto por aqui.
Até semana que vem :)


O ciclo das sombras cap. 3/ pt. 2

Olá Queridos Leitores,




Como acontece toda a segunda-feira, vou postar mais uma parte do Ciclo para vocês :)

Cap. 3/ pt. 2:

Assim que Kimberly chegou à empresa, foi direto para a sua sala de trabalho e viu que Martin estava sentado esperando por ela.
            — Oi Martin — cumprimentou enquanto largava a bolsa e a pasta em cima de outra cadeira.
            — Oi Kim, — respondeu levantando-se da cadeira e se aproximando dela — ontem, quando eu passei aqui para ver você, a Penélope disse que você tinha saído para resolver uma questão na clínica em que seu tio está. Aconteceu alguma coisa? — Indagou preocupado.
            Por um segundo Kimberly quase disse: “Clínica? Eu não fui à clínica, fui à casa misteriosa...” Mas controlou-se a tempo de cometer um erro.
            — É verdade. Tive de sair mais cedo. Mas não foi nada grave, meu tio cismou que queria falar comigo. Queria me contar que recebera a notícia que a esposa, o irmão e o pai dele iam voltar de viagem. — Depois que disse isso, ficou com raiva de si mesma. Estava utilizando a doença do tio para encobrir uma falha sua. Não estava gostando nada das atitudes que vinha tomando ultimamente. Precisava parar com isso.
            — Puxa, e o que foi que você disse? — Indagou segurando a mão dela.
            — Fiz como a médica instruiu: disse que estava animada e que iria aguardar para ele me avisar quando o pessoal chegasse.
            Martin não respondeu nada, apenas a abraçou e disse solidário:
            — Sei que deve ser uma barra isso. Não poder contar a verdade a quem a gente gosta muito deve ser horrível. Mas qualquer coisa que precisar, conte comigo.
            Enquanto o abraçava, Kimberly sentiu uma forte pontada de remorso. Martin estava certo, era mesmo horrível não poder contar a verdade a quem se gostava de fato. Afastou-se dele e disse:
            — Sei que é complicado, mas eu preciso fazer isso. Imagino que estragaria toda a situação se eu dissesse a Douglas a verdade. — Estava dizendo isso mais para si mesma do que qualquer outra coisa.
            — Bem, não vou me tornar repetitivo, se precisar de mim, me chame. — Encaminhou-se até a porta e disse. — Não quer sair comigo hoje?
            “Mais uma mentira, só mais uma e estará tudo acabado” — pensou Kimberly prendendo a respiração.
            — Infelizmente, hoje eu vou ir de novo à clínica. Quero ver se Douglas melhorou. Podemos combinar outro dia, sim? — Perguntou tentando esconder o nervosismo.
            Martin ergueu os ombros e respondeu:
            — Sem problemas, só vamos deixar claro que você está me devendo um passeio.
            — Tudo bem — respondeu enquanto o observava sair da sala.
            Mal ele saiu e Penélope entrou. Aproximou-se discretamente da colega e disse:
            — Não aguento mais. Preciso falar: você está sendo boba. Por que não dá uma chance ao Martin? O cara está amarrado em você e você só o corta!
            Kimberly arregalou os olhos, não esperava ouvir isso de Penélope, mas teve de responder:
            — Gosto dele, mas como amigo e colega de trabalho. Já fui bem clara com ele. O que é que eu posso fazer?
            Isto era verdade. Kimberly sempre tivera o cuidado de deixar as coisas bem claras entre os dois e Martin sempre dissera que estava ciente da situação. Ela simplesmente não precisava de mais uma pessoa falando sobre isso.
            — Sério? — Indagou Penélope indo para sua mesa de trabalho.
            — Absolutamente sério — respondeu Kimberly dando o assunto por encerrado. Pegou alguns papéis da pasta que tanto lhe dera trabalho e mergulhou em suas atividades. Tinha que se distrair e fazer algo de útil até que chegasse o final do expediente.

            Após a volta do almoço, Vilton a chamou em sua sala e lhe perguntou sobre a situação de seu tio. Novamente Kimberly sentiu-se culpada. Estava mentindo, usando a debilidade do tio em seu benefício. Falou a mesma coisa que dissera a Martin pela manhã e se odiou por isso. Como lhe era difícil mentir. Já era bem complicado ter de conviver com a situação de Douglas e agora, tinha que usá-lo como válvula de escape. Precisava parar com isso antes que fosse tarde demais. E iria terminar com essa situação absurda no final daquele dia, custasse o que custasse.


Por hoje era isso, até semana que vem. Espero que gostem.
Deixem suas ideias e sugestões. Sua opinião é muito importante para mim.



segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O Ciclo das Sombras - Cap. 3/ pt. 1

Olá Queridos Leitores,

Trago mais uma parte do Ciclo hoje para vocês. Espero que gostem.




CAPÍTULO 3

Encontro


Mais uma vez, Kimberly passou pelo sono. Quando abriu os olhos e viu o relógio que havia sobre o criado-mudo, constatou que faltavam alguns minutos para que ele despertasse. Não sentiu vontade de ficar deitada até ouvir o “toque de levantar”, então resolveu sair da cama. A pasta, a chave e o envelope continuavam ali, parados, sobre o móvel como se estivessem lembrando-a que, o que ocorrera na noite anterior não fora fruto de sua imaginação.
“Vou precisar das chaves de novo” — pensou enquanto pegava a roupa que tinha separado para usar naquele dia. — Hoje vai ser um dia muito estranho — falou para si mesma enquanto entrava no banheiro para se arrumar.
Durante o banho, Kimberly tentava raciocinar sobre o que estava acontecendo com ela. Definitivamente, ela não era uma pessoa que se impressionava fácil com as coisas. Respeitava as pessoas, mas tinha de conter a vontade de rir quando as ouvia falar em signos, ascendentes e todo o resto de assuntos esotéricos. No seu entender, nada disso tinha influência na vida das pessoas, elas apenas se apoiavam nestes assuntos para tentarem explicar o motivo de seus fracassos e frustrações. “Não há nada além da vida aqui na terra.” — Pensava olhando para cima em um gesto de impaciência. Chegara a discutir algumas vezes com Penélope e Evelin quando elas afirmavam de pé juntos que o esoterismo e a magia faziam parte da vida cotidiana das pessoas. Nunca dissera francamente, mas achava que suas colegas de trabalho eram duas doidas que perdiam tempo com assuntos que não as levavam a lugar nenhum.
Mas agora... Agora Kimberly sentia-se forçada a olhar o assunto por outro ângulo. Os acontecimentos provavam que havia algo diferente e que ela sempre negara existir. Ela mesma estava sentindo algo estranho. Nos últimos dias sentia-se diferente, não sabia em quê aspecto, mas sentia-se mudada.
— Só espero não estar enlouquecendo — disse para si mesma enquanto passava as mãos no rosto para lavá-lo.
Quando se aprontou, tomou o café da manhã e saiu devagar do apartamento. Sabia que estava bem adiantada no horário, mas precisava passar na imobiliária antes de ir para a empresa. Enquanto encaminhava-se para um ponto de táxi, imaginava o que iria dizer ao gerente do turno da manhã para que ele concordasse com que ela permanecesse mais um dia com as chaves. Não seria uma tarefa fácil.

Quando saiu do táxi e se encaminhou para a imobiliária, percebeu que a mesma já estava aberta para o atendimento ao público. Com um suspiro, empurrou a porta de entrada e encaminhou-se até a recepção.
— Bom dia — cumprimentou a secretária — em que posso ajudá-la?
— Preciso falar com o gerente, porque preciso ficar mais um tempo com as chaves de uma casa. — Concluiu indicando as chaves para a secretária.
— Um momento, por favor — pediu enquanto discava um número no telefone.
Enquanto aguardava a secretária falar com alguém, Kimberly dirigiu-se até uma cadeira, sentou e guardou as chaves na bolsa. Desejava que o gerente não começasse a indagar sua atitude, pois ela não saberia o que responder a ele. Com certeza, não poderia dizer a ele que iria visitar o morador da casa que estava para vender. Soaria estranho.
— Kimberly, bom dia! — Cumprimentou Fernando tirando-a de seus pensamentos.
Ela quase saltou da cadeira com o susto que levara, não havia percebido a aproximação do gerente. Mais um ponto para adicionar à lista de mudanças que estavam ocorrendo com ela desde que se envolvera com a bendita casa.
— Não o vi chegar — desculpou-se enquanto levantava.
Fernando apertou a mão dela e esclareceu:
— Eu não iria trabalhar pela parte da manhã, mas fiz questão de vir para receber as chaves e concluir, como estou fazendo agora, que você é uma pessoa de palavra — e estendeu a mão para recebê-las.
Kimberly sorriu sem jeito e disse:
— Eu trouxe as chaves como o combinado, felizmente eu encontrei a pasta que havia esquecido, mas preciso lhe fazer mais um pedido.
Fernando ergueu as sobrancelhas demonstrando que não havia entendido o que ela lhe disse.
— Sei que parece estranho, mas preciso das chaves emprestadas novamente, somente hoje e amanhã lhe devolverei e não incomodarei mais.
Ele a analisou como se estivesse vendo uma criança pedindo um brinquedo em uma loja.
— Mas se você achou a pasta, por que quer ficar mais um dia com as chaves? Isso não é nenhuma desculpa para dizer que as perdeu, não é?
— Não — apressou-se em responder, enquanto abria a bolsa e procurava. No momento seguinte, ela mostrava as chaves para Fernando, que pareceu respirar mais aliviado. — As chaves estão aqui, como pode ver, eu não as perdi, mas é que realmente preciso voltar à casa mais uma vez, só mais uma vez. Infelizmente, não posso explicar o motivo, mas eu preciso voltar lá. Se quiser que eu deixe o dinheiro da caução, eu deixo. Deixo até cinquenta reais se for o caso, mas me ajude mais esta vez, por favor.
Ela parecia tão desesperada em retornar a casa e tão sincera em seus argumentos que ele não teve alternativa a não ser concordar com ela. Como um pai que acaba aceitando o pedido do filho, Fernando disse:
— Está bem, percebo que você está precisando mesmo voltar lá. Não há necessidade de deixar o dinheiro, mas faço um trato: ou você me devolve estas chaves amanhã, sem falta, aconteça o que acontecer, ou eu vou ter de tomar atitudes mais sérias. Está bem assim?
A resposta que Kimberly deu foi um largo sorriso.

— Obrigada, — disse apertando a mão de Fernando — não se preocupe, devolverei as chaves amanhã, no mesmo horário — e saiu apressadamente para a rua.


Até a próxima semana,


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O Ciclo das Sombras - Cap. 2/ pt. 4

Olá Queridos Leitores,

Segue a parte quatro do segundo capítulo do Ciclo.


Acordou deitada em sua cama. Precisou de alguns minutos até conseguir entender onde estava e o que estava acontecendo. Lentamente, sentou-se na cama e olhou em volta receosa de que não estivesse sozinha. Mas estava só, não havia ninguém ali, a não ser ela.
— Que loucura — murmurou — o que foi aquilo que aconteceu? — Em seguida retesou-se ao lembrar o motivo pela qual estivera na casa. — A pasta, eu esqueci de novo a p... — interrompeu a frase quando olhou para o lado e viu a pasta em cima do criado-mudo. A chave da casa estava em cima da pasta e havia um envelope.
Kimberly franziu o cenho e sentou-se melhor na cama, pegou o envelope branco e o abriu lentamente. Havia uma folha feita de um papel muito delicado, especial, que Kimberly reconheceu. Na empresa na qual trabalhava, sabia que aquele papel era muito caro e só era usado pelos clientes em ocasiões muito solenes. Aproximou o papel do nariz, aspirou o perfume e se sentiu levemente tonta.
— Até o papel é perfumado! Que homem é esse — perguntou para o vazio do quarto.
Havia algumas frases que, a princípio, ela não conseguiu ler, porque estavam escritas em alemão, mas depois ela percebeu que ele havia escrito a tradução logo mais abaixo no papel. E a letra... era uma letra desenhada, parecida com as letras de séculos atrás quando não havia tecnologia nenhuma e as pessoas se esmeravam ao escrever o que quer que fosse, desde um documento oficial a uma simples carta.
Ich habe den Ordner für Sie, er ist wichtig. Und auch den Schüssel zum Haus, so Können sie zurükommen… Herzliche Grüsse Ulrich.
(Trouxe a pasta para você, porque sei que é muito importante. Também trouxe a chave da casa para que você possa voltar... Beijos, Ulrich.)
“Ele existe mesmo então” — pensou enquanto guardava o papel no envelope. — “Ele existe e me trouxe em casa...” — terminou o pensamento e sentiu medo. O homem era um estranho, como sabia onde ela morava? Kimberly não se lembrava de ter escrito o endereço residencial em sua agenda. E se ele estivesse se aproximando com intuito de roubá-la ou de fazer outra coisa? — “Se bem que, se ele quisesse fazer alguma coisa, já teria feito.” — Concluiu enquanto deitava-se e tentava dormir, mas sabia que, naquela noite, não conseguiria mais dormir.
Tentou não pensar em nada, mas não adiantava, o homem que falava alemão e se chamava Ulrich não saía de sua cabeça. Por que dera continuidade à curiosidade da casa? Agora estava envolvida demais para voltar atrás, enquanto não compreendesse o que realmente estava acontecendo, não descansaria. Havia muitas coisas para entender: os sonhos que não eram sonhos e pareciam reais e o fato de um homem que ela nunca vira na vida existir de verdade.

“E os olhos,” — pensou enquanto, finalmente, adormecia — “os olhos verdes iluminados...”


Até semana que vem,


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O Ciclo das Sombras - Cap. 2/ pt. 3

Olá Queridos Leitores,

Depois de muito tempo cá estou eu publicando mais um pouco do meu livro. Espero que gostem.]


Quando chegaram ao prédio onde Kimberly morava, Martin questionou enquanto ela descia do carro.
— Tem certeza que não houve nada de errado? Você está estranha...
Ela lhe dirigiu um sorriso forçado e respondeu:
— Obrigada por se preocupar comigo, mas está tudo bem. Eu simplesmente me assustei com uma bobagem de nada, não se preocupe com isso. — Disse e lhe dirigiu um lindo sorriso.
Martin respondeu mais aliviado:
— Se você diz que está tudo bem, então está tudo bem. Até amanhã — despediu-se entrando no veículo do primo.
— Até.
Kimberly ficou observando o carro de Rogério se afastar e sumir ao dobrar a esquina mais adiante e então entrou no prédio.
Assim que abriu a porta do apartamento, prosseguiu em sua rotina. Enquanto realizava suas tarefas, lembrava-se da conversa com Vilton. Tinha que admitir que estava exultante! Sempre esperara ser reconhecida e, com o reconhecimento, não cabia em si de tanta felicidade. Era ótimo saber que as pessoas observavam o seu esforço e valorizavam isso.
“Puxa, um aumento de salário! Meu Deus, que maravilha!” — Pensou contente.
Mais tarde, depois de tudo organizado, Kimberly preparou-se para dormir. Deitou na cama ainda pensando no aumento do salário quando, de repente, sentiu um frio no estômago.
— Ai não! — Falou enquanto sentava-se rapidamente. — A pasta ficou na casa! Esqueci a droga da pasta!
Olhou instintivamente para o relógio e percebeu que, pelo horário avançado, não adiantaria mais nada a não ser esperar. A imobiliária, com certeza, já estava fechada.
Revirou-se na cama e resolveu levantar e ir até a cozinha tomar um pouco de água. Tinha perdido completamente o sono com o fato.
— Como posso ter esquecido a pasta mais importante da minha vida? — Perguntava em voz alta enquanto se servia de água. — Como pude esquecer isso? Onde ando com a cabeça?
Bebeu alguns goles enquanto tentava encontrar uma resposta plausível para o que acabara de fazer. Era inadmissível tal descuido. Isso podia lhe causar uma redução de cargo e uma super redução em seu salário, se não lhe custasse o próprio emprego.
Enquanto voltava para o quarto, pensava no que a fizera esquecer a pasta na casa. A semelhança do sonho que tivera com a realidade era impressionante! Tantas coisas estranhas acontecendo ao mesmo tempo em sua vida que não era de admirar que fosse acabar se descuidando de alguma coisa. Ainda bem que ela sabia perfeitamente onde estava a pasta. Deixara os documentos em cima da mesa onde estava o quadro do homem misterioso.
— Homem misterioso... — falou baixinho para si — não é tão misterioso... Agora ele tem um nome: Ulrich von Goeth. Primogênito da família real de Bonn. Que loucura — disse enquanto deitava-se e tentava dormir.
Mas foi difícil. Toda a vez que estava querendo adormecer, as imagens da casa lhe viam à mente e ela acordava e então recomeçava a fazer os planos para o dia seguinte: no final do expediente, ela iria até a imobiliária e pegaria as chaves, então voltaria à casa, pegaria a pasta e estaria tudo perfeito. Só não conseguia entender como é que Martin não vira a pasta em cima da mesinha quando ele e o primo foram olhar os demais andares.
— Martin é tão observador... deveria ter visto iss... — disse enquanto finalmente adormecia.

Na manhã seguinte, Kimberly acordou antes do despertador tocar. Arrumou-se, tomou café rapidamente e saiu de casa ansiosa para chegar à empresa. Pegou o ônibus do horário anterior ao seu e chegou antes de seus colegas. Estava apressada, porque queria pesquisar o endereço da imobiliária sem que ninguém visse. Se caso Martin chegasse a convidá-la para sair depois do expediente, ela diria que tinha um programa qualquer e marcaria para outro momento. Não queria que ele soubesse que ela tinha esquecido uma pasta tão importante em uma casa para vender.
Pegou o guia de endereços e localizou o nome da imobiliária. Anotou o número do telefone e ligou. Assim que a secretária atendeu, Kimberly perguntou enquanto olhava para a entrada da porta para verificar se algum dos seus colegas havia chegado:
— Por favor, qual é o horário de encerramento de vocês?
— Hoje, excepcionalmente, fecharemos às cinco e meia, senhora.
— Não! — Gritou Kimberly ao telefone.
— O que foi senhora? — Perguntou a secretária, pois não tinha entendido o motivo do grito.
— Por favor, — pedia desesperada — pode fazer um favor para mim? Ontem eu estive com um colega meu, visitando uma casa que está para vender. Acontece que eu acabei esquecendo uma pasta muito importante de trabalho na casa e preciso voltar antes que alguém pegue. Preciso ir até aí pegar a chave para buscar minha pasta, mas só saio do trabalho às seis da tarde, poderia me ajudar? É muito importante para mim, meu emprego depende disso!
Silêncio do outro lado da linha.
— Alô, você ainda está aí? — Perguntou quase gritando de novo.
— Um momento, senhora. Vou lhe passar o responsável.
Mais alguns angustiantes minutos se passaram até que um homem a atendeu:
— Sim, em que posso ajudá-la?
Tentando aparentar tranquilidade, Kimberly contou novamente o que havia acontecido e terminou:
— Por favor, só peço para ficarem mais meia hora abertos. Eu preciso pegar a pasta!
— Tudo bem. Não se preocupe, deixe-me só verificar se as chaves encontram-se na imobiliária e já iremos verificar a sua situação.
— Tudo bem, eu aguardo. Muito obrigada — respondeu esperançosa.
Os minutos que se seguiram pareceram uma eternidade. Por um momento, ficou com receio de que o moço lhe dissesse que a chave se encontrava em posse de outro possível comprador e então a porcaria estaria feita. A primeira coisa que iria fazer era escrever a carta de demissão. Seu chefe não a perdoaria, ele...
— Olá, ainda está aí? — Perguntou o homem.
— Sim, — respondeu Kimberly apertando o fone com tanta força que seus dedos chegaram a doer.
— Nós estamos com as chaves aqui sim. Como hoje sou o gerente de plantão, ficarei esperando a senhora aqui, até as seis e meia, no máximo. Se caso você não estiver aqui até o horário, deixarei a chave separada para o colega da manhã com as instruções, está bem?
— Muito obrigada! Não se preocupe, estarei aí antes de você ir embora, não farei você esperar em vão. Muito obrigada mesmo!
Mal tinha colocado o telefone no gancho e Penélope acabava de entrar na sala. Largou a bolsa em cima da mesa e disse bem humorada:
— Madrugou hoje, hein?
Kimberly quase levou um susto quando viu a colega entrar, estava tão absorta na ideia de que iria conseguir pegar as chaves que nem a viu chegar.
— É o projeto da loja que está me deixando inquieta, — desculpou-se — quero terminar ele o quanto antes — terminou suspirando.
Agora, as coisas iriam terminar tranquilamente. Mas não era bem isso que o Destino tinha em mente para Kimberly...


O dia passou numa lentidão absurda. Por mais que tentasse, Kimberly não conseguia se concentrar. Qualquer assunto que tentava resolver era cortado pela ansiedade de ir buscar a “pasta de sua vida” na casa misteriosa. Havia enviado um e-mail para Vilton avisando que precisaria sair uns quinze minutos antes do expediente terminar, pois recebera uma ligação da clínica em que seu tio estava lhe informando que Douglas precisava muito falar com ela. Meia hora depois, ela recebeu o e-mail de confirmação do chefe dizendo que não havia problema e, se ela quisesse, poderia sair às cinco e meia. Afinal, era um assunto de família, devia ser importante.
“Ele nem sabe o quanto é importante” — pensou Kimberly sentindo um enorme alívio.
Quando ela olhou para o relógio que havia em cima de sua mesa de trabalho, constatou que eram cinco horas. Ainda faltava meia hora para sair e então esperou. Verificou os e-mails novamente, navegou por sites de Design tentando encontrar novas ideias para o projeto, mas nada resolvia a angústia que estava sentindo. Ansiava por sair dali o mais rápido possível e salvar a pasta. Não teria descanso enquanto não estivesse com ela embaixo do braço. Quando olhou novamente para o relógio, surpreendeu-se ao constatar que haviam passado cinco minutos do horário que planejara sair. Arrumou as coisas rapidamente e, antes de sair, explicou aos colegas o motivo. Pediu para Penélope avisar Martin, caso ele perguntasse por ela.
Saiu da empresa em disparada até o ponto de táxi. Por sorte, havia um táxi esperando. Caminhou a passos rápidos até o táxi e disse ao motorista:
— Boa tarde, estou com certa pressa para chegar à Rua Julieta Pinto César nº. 87. Pode me levar até lá?
— Com certeza — respondeu o motorista sorridente. — Qual o caminho que a senhorita quer fazer?
Kimberly olhou pela janela do táxi e simplesmente respondeu, enquanto encostava-se no banco:
— O caminho mais curto, por favor.
Minutos antes das seis e meia, Kimberly desceu do táxi e saiu correndo para entrar na imobiliária. Abriu a porta muito ansiosa e só começou a se acalmar quando um homem, que ela julgou ser o mesmo que conversara com ela ao telefone, veio em sua direção.
— Boa noite. — Cumprimentou ele estendendo a mão. — Você deve ser a Kimberly, sim?
Ela balançou a cabeça afirmativamente, pois tentava recobrar o fôlego da correria de antes.
Ele sorriu e disse:
— Sou Fernando, o gerente de plantão. Aqui estão as chaves — disse entregando-as para Kimberly. ─ Normalmente, nós pedimos uma caução de vinte reais, mas como sei que é um caso excepcional, vou entregar as chaves para você e confiarei que amanhã, bem cedo, você as trará de volta, está bem assim?
Com mais calma, ela respondeu:
— Com certeza, entregarei sim. Agradeço muito o que fez por mim, meu emprego depende dessa pasta.
Fernando cruzou os braços e disse:
— Então vá pegar a pasta. Sabemos que, hoje em dia, o emprego não anda fácil. Boa noite e boa sorte.
— Boa noite, — respondeu ela virando-se e saindo novamente apressada.
Teve de caminhar uma quadra a mais até encontrar o próximo ponto de táxi. À medida que se aproximava sentia o coração aos pulos, não havia táxi nenhum e ela não queria esperar mais até conseguir pôr as mãos na bendita pasta.
“Também que idiota que eu sou,” — pensava enquanto caminhava — “por que fui me esquecer de algo tão importante? Onde eu estava com a cabeça?”
No momento em que parou para aguardar o táxi percebeu que o motivo que a fizera esquecer a pasta fora porque saíra correndo como uma criança assustada ao sentir que havia mais alguém naquele quarto. Só isso.
O baque que levou quando se deu conta da causa do esquecimento a deixou com um frio desagradável no estômago. Iria voltar à casa sozinha e desta vez não era em sonho, era na vida real. Não haveria ninguém para ajudá-la se realmente o homem que aparecera para ela em sonho, resolvesse aparecer agora.
“Bem,” — pensou com um suspiro resignado — “prefiro morrer de susto a perder o meu emprego.”
Em seguida um táxi chegou e Kimberly embarcou nele, mal fechou a porta do veículo e pediu:
— Para a Avenida Senador Salgado Filho, quase entrada da Santa Isabel, por favor.
Enquanto aguardava chegar ao destino, desejava que encontrasse a pasta o mais rápido possível. Só iria sossegar quando a tivesse em seu poder. Procurava não pensar na situação, mas tinha de confessar que estava com grande raiva de si mesma. Não gostava, de forma alguma, de esquecer alguma coisa, ainda mais algo tão importante.
“A única explicação para isto é que eu estou ficando louca... com certeza, farei companhia para meu tio logo, logo” — pensou sorrindo tristemente.
— Pronto, chegamos — anunciou o taxista interrompendo o devaneio de Kimberly.
— Obrigada. — Pagou o valor da corrida, saiu do táxi e permaneceu por alguns segundos olhando o veículo desaparecer mais adiante na curva. — Bem, não há volta agora — disse baixinho para si mesma. — É seguir em frente.
Caminhou até o portão de entrada, o mesmo que vira tão nitidamente nos sonhos e o abriu com certa dificuldade. Com certeza, ele não era aberto fazia tempos. Fechou-o atrás de si e encaminhou-se para a porta de entrada. Sentiu uma fisgada no estômago quando se lembrou que o primo de Martin tivera dificuldades em abrir a porta. Se ele, que aparentava ser um homem forte quase não conseguira abrir a porta, o que diria ela?
— Não vou sofrer por antecipação, — disse para si mesma — a porta vai abrir, sim. — Respirou fundo, colocou a chave na porta e girou, torcendo que não acontecesse nada de errado.
A chave girou sem dificuldade alguma e a porta abriu com um leve rangido.
— Puxa, os caras da imobiliária são bons mesmo. Arrumaram a porta de um dia para o outro. Querem mesmo vender a casa para o Rogério — concluiu enquanto entrava na sala.
Encaminhou-se para o interruptor com a mesma facilidade de antes. Acendeu a luz e olhou por um momento para as escadas que levavam ao segundo andar. Fora lá, na mesinha do corredor, que esquecera a pasta e tinha que ir até lá para pegá-la. Olhou em volta esperando ver algo que chamasse a sua atenção, mas a sala permanecia normal, não havia nada de diferente ou que indicasse a presença de outra pessoa. Respirou fundo mais uma vez e caminhou decidida até as escadas. Procurando manter a calma e os batimentos do coração menos acelerados, Kimberly subiu o lance de escadas e parou de frente para o corredor. Levou a mão direita à parede e acendeu o interruptor de luz. O corredor iluminou-se e ela respirou aliviada. A pasta continuava lá, no mesmo lugar e do mesmo jeito que ela deixara na noite anterior.
— Graças a Deus eu a encontrei — disse correndo para pegar a pasta.
Estendeu a mão e pegou o objeto que tanto a deixara nervosa e dispersa durante o dia todo. Apertou-a contra o peito e fechou os olhos por um minuto. Quando os abriu observou mais atentamente o quadro que havia acima da mesinha. O homem que fora pintado era realmente lindo. Os olhos tinham um tom de verde além do que se via por aí, não pareciam naturais. Talvez o pintor quisesse ter dado um toque especial à obra e criara aquele verde azulado que chegava a ser hipnótico. E os cabelos dele foram pintados com uma realidade impressionante, dava a impressão que se a pessoa estendesse a mão à pintura conseguiria pegar uma mecha deles. Eram extremamente pretos e brilhosos e caíam como uma cascata ondulada pelos ombros dele.
— Herr von Goeth — suspirou Kimberly — primogênito da Família Real de Bonn... é tão lindo... nem parece real — murmurou para si mesma.
Aber ich bin, meine Prinzessin, ich bin. (Mas eu sou, minha princesa, eu sou) — disse de repente uma voz grave atrás dela.
Kimberly girou tão rápido que temeu perder o equilíbrio e cair. Apoiou-se como pôde na mesinha e o fez tão bruscamente que quase a derrubou também. Era ele! Ele estava diante dela! E não era um sonho, era real! A única coisa que ela conseguiu fazer foi olhar para os olhos dele e constatar que a pintura do quadro não acrescentara nada, o verde azulado era, de fato, a cor dos olhos dele.
Gute Abend (boa noite) — ele cumprimentou com voz grave.
Kimberly não conseguiu emitir som nenhum, só conseguiu olhar para ele e tentar controlar a respiração que estava muito rápida. Ele avançou um passo em sua direção e ela pôde sentir o perfume doce amadeirado que sentira tantas outras vezes. Por mais que tentasse, não conseguia normalizar a respiração e começava a se sentir tonta. Se não se controlasse, na certa desmaiaria.
Ruhig meine Liebe. (calma, minha querida). Não precisa ficar nervosa... Ich bin hier (eu estou aqui).

Aquilo foi tudo o que Kimberly não precisava no momento, ficou tão nervosa que a respiração ficou mais acelerada e a tontura aumentou mais ainda. A única coisa que conseguiu ver antes de desmaiar foi os olhos verdes brilhantes dele aproximando-se dela.

Por hora é isso. Até a semana que vem.