Olá Queridos Leitores,
Hoje é dia de postar mais uma parte do Ciclo para vocês!
Cap. 3/pt. 4
Ele não
respondeu de imediato e ela acreditou que ele não teria ouvido a pergunta,
porque nem ela mesma ouvira direito o que dissera.
— Ja, du kannst gehen (sim, você pode ir) —
respondeu sem se virar.
Kimberly não
entendeu o que ele disse, mas deduziu que ele respondia positivamente. Ela ia
dar um passo para ir embora quando se deu conta que ele estava parado bem ao
lado da porta de saída. Hesitou, pois sabia que teria de passar por ele para
sair.
— Pode passar
— ele disse de repente, como se adivinhasse os pensamentos dela. — Não precisa
se preocupar... o perigo já passou.
Ela engoliu em
seco e caminhou desconfiada, apertou a pasta e as chaves com tanta força contra
o peito que temeu amassar e estragar os papéis importantes do projeto. Parou
exatamente ao lado dele e o observou. Ele continuava impassível, olhava
fixamente para a parede branca à frente e mantinha os braços cruzados.
— Bem, —
começou indecisa, sabia que não havia lógica em perguntar novamente, mas
precisava se certificar — posso ir? — Questionou olhando para ele.
Ulrich virou a
cabeça devagar e Kimberly viu o brilho verde azulado de novo nos olhos dele.
Ele estava calmo agora, mas parecia um pouco triste.
— Sim, pode
ir. Você é livre para decidir se quer ficar ou se quer ir... — suspirou e
disse. — Livre-arbítrio...
Por um
instante, ela acreditou que ele viria em sua direção, mas se enganou quando
percebeu que ele continuou parado onde estava.
— Obrigada —
respondeu por fim enquanto abria a porta para sair.
Assim que
fechou a porta atrás de si, começou a caminhar cada vez mais rápido e então
saiu do terreno da casa correndo como louca e só parou de correr quando chegou
ao ponto de ônibus. Estava com o coração aos saltos e tentava normalizar a
respiração, mas não conseguia. Tinha visto coisas demais em uma só noite. Aquilo,
com certeza, não podia ser verdade, estava fora demais da realidade e ela não
conseguia e não queria aceitar os fatos. Baseada na razão e na lógica, Kimberly
não queria concordar com o que acontecera.
— É tudo fruto
da minha imaginação. Estou trabalhando demais e estou estressada, só isso —
falava sozinha, tentando se convencer do que dizia. — Ele é apenas alguém
normal que mora em uma casa que está para vender. O sonho que eu tive com ele,
antes de conhecê-lo, foi coincidência, nada mais. — Fez uma breve pausa e
concluiu. — E eu não vi a cor dos olhos dele mudar. Não vi!
Fechou os
olhos com força como se isso fosse fazer tudo sumir como num passe de mágica.
Respirou fundo algumas vezes e, quando abriu os olhos estava mais calma. De
repente, se deu conta de que a avenida estava muito silenciosa e deserta.
Normalmente, havia um bom fluxo de carros à noite. Estranhou tal fato e olhou
para o relógio sobressaltando-se ao constatar que eram quase duas horas da
manhã. Como o tempo passara tão rápido, ela não sabia e também achava que não
queria saber. Aliás, a única coisa que ela queria, naquele momento, era chegar
em seu apartamento e tomar um copo com água e muito açúcar para tentar se
acalmar. Uma boa noite de sono, se ela conseguisse dormir, também seria um
santo remédio.
Agora que
estava “mais calma”. Kimberly começou a se preocupar com outra coisa: o último
ônibus havia passado há uma hora e ela teria de encontrar um táxi se quisesse
chegar em casa.
Olhou para os
dois lados da avenida em busca de um táxi, mas parecia que só ela estava na rua
àquele horário. Vasculhou apressadamente a bolsa em busca do celular e
constatou que ele não estava na bolsa. Provavelmente, ela o havia esquecido em
sua mesa de trabalho.
— Porcaria!
Como é que eu vou para casa agora? — Perguntou em voz alta e depois se
encolheu, porque quase havia gritado, mas depois achou a preocupação sem
sentido, já que só ela estava ali.
A ideia de
voltar a casa lhe veio à mente, mas ela a descartou rapidamente. Não iria
voltar lá nunca mais. Não iria ficar imaginando coisas, assustando-se e
enlouquecendo aos poucos. Ela iria cortar o mal pela raiz.
— O que é que
eu vou fazer? — Perguntou para si mesma, começando a ficar muito preocupada.
Decidiu por
caminhar até a próxima parada. Na certa, haveria outras linhas de ônibus mais à
frente. Com sorte, ela encontraria um ponto de táxi no caminho.
“Droga, essa
região não é muito segura, ainda mais nesse horário...” — pensava enquanto
acelerava o passo. O fato de estar com sapatos de salto alto dificultava e
atrasava a caminhada, sem falar que o barulho dos saltos ecoava como tambores
na avenida deserta. — “Como foi que eu consegui correr pra longe da casa com
esses sapatos? Se eu soubesse que isso ia acontecer, na certa teria vindo com
um tênis...”
Terminou o
pensamento sorrindo, pois se imaginou com o terninho azul que estava usando e
calçando tênis brancos. O conjunto ficaria uma maravilha. Continuou caminhando,
sorrindo e balançando a cabeça, mas o momento de descontração não continuou por
muito tempo, pois Kimberly acabara de ouvir passos atrás dela. Rapidamente,
olhou para trás e constatou que havia dois homens caminhando rapidamente em sua
direção. Um frio desagradável passou por seu estômago e, naquele momento, ela
percebeu que se encontrava em uma situação muito perigosa. Tentou apressar
ainda mais o passo, mas estava difícil com os sapatos de salto. Olhou novamente
para trás e constatou que a distância entre ela e os homens estava diminuindo
rapidamente.
“Preciso achar
um táxi!” — Pensava desesperada. — “Um maldito táxi!” — Olhava para todos os
lados, mas só encontrava o vazio. Exceto os dois homens que se aproximavam
dela, a avenida estava deserta.
Ela percebeu
que eles também aceleraram o passo e, por um momento, ela pensou em parar e
deixá-los passar, mas sabia que, se parasse, eles não iriam passar por ela,
iriam querer alguma coisa dela.
“Assaltantes!”
— Concluiu enquanto apertava a pasta contra o peito. Estava mais preocupada em
proteger a pasta do projeto do que proteger a si mesma.
— Ei, moça! —
Gritou um deles. — Queremos uma informação!
Então,
Kimberly disparou correndo e pôde ouvir que eles corriam também. Não havia
saída, seria assaltada e eles levariam tudo o que era importante para ela.
Tropeçou, quase caiu e decidiu tirar os sapatos, pelo menos, estando descalça,
poderia correr mais rápido. Foi em uma fração de segundos. Ela parou para tirar
os sapatos e a distância entre ela e os homens diminuiu em um piscar de olhos.
Quando ela ia recomeçar a correr, um deles conseguiu pegar seu braço, fazendo-a
parar e se virar para ele. A força com que ele segurou o braço de Kimberly fez
com que ela gritasse de dor.
— Não precisa
correr, moça — disse o outro rindo maliciosamente — nós só queríamos uma
informação...
— É —
concordou o homem que segurava o braço dela cada vez mais forte — só uma
informação — terminou puxando-a mais para perto.
Quando chegou
perto do homem que segurava o seu braço, precisou conter a ânsia de vômito,
pois ele exalava um fortíssimo cheiro de álcool e cigarro.
Ela tentou se
soltar, mas acabou fazendo com que ele apertasse mais ainda seu braço.
— Ai...meu
braço — gemeu de dor.
O outro homem
chegou perto e disse com raiva na voz.
— Cala a boca
agora! Ou você vai dar o que nós queremos ou vamos acabar com você agora mesmo!
— Mas... mas
eu não tenho nada! — Falou desesperada, tentando evitar as lágrimas que
começavam a sair. Estava horrorizada.
— Você que
pensa que não tem — disse o homem que segurava o braço dela. Puxou Kimberly
mais para perto de si e lhe disse sorrindo. — Você tem um monte de coisas que
nos interessam, não é Alberto? — Perguntou ao outro que respondeu enquanto se
aproximava e pegava uma mecha dos cabelos dela.
— É verdade,
tem muita coisa para oferecer — disse e puxou os cabelos dela com força.
O puxão que
ele deu foi tão brusco que fez com que a cabeça dela pendesse para trás,
causando-lhe mais dor.
— Por favor...
me... me solte — pedia com a voz entrecortada pela dor. — Levem a minha bolsa,
mas me deixem em paz! Por favor! — Pediu chorando.
— Eu já mandei
calar a boca! Quem manda aqui sou eu! — disse Alberto.
Rapidamente,
ele puxou os cabelos de Kimberly com mais força para trás e os soltou.
Automaticamente, ela inclinou o corpo para trás e quando voltou à posição
normal, ele lhe deu um forte soco na maçã do rosto, fazendo com que Kimberly
perdesse o equilíbrio e caísse de costas no chão.
Ela não
esperava por isso e, quando recebeu o soco no rosto, perdeu os sentidos por
alguns segundos. Quando caiu de costas, bateu com a cabeça no chão. Podia
tentar levantar, mas desistiu e ficou deitada. Estava tão cansada e exausta
daquela situação toda que, se morresse naquele momento, ficaria feliz.
— É, — disse
Alberto para o homem que segurara o braço de Kimberly — agora sim, ela vai
cooperar conosco.
— É bem por
aí, Caio — gritou o outro apoiando a atitude do amigo — a gente tem que mostrar
quem é que manda!
Riram,
disseram mais algumas baboseiras sobre quem é que coordenava a situação e então
Caio disse, em tom menos debochado e mais ameaçador:
— Agora está
na hora de você nos dar a informação que queremos — disse e começou a se
aproximar dela.
“Meu Deus,” —
pediu Kimberly — “não acredito no que meus olhos não podem ver, mas peço de
coração, que me ajude. Envie o meu Anjo da Guarda para me tirar daqui...” —
terminou o pensamento e começou a lutar para não cair na inconsciência, pois
sentia que não iria conseguir se manter acordada por muito mais tempo. Era
questão de segundos para acabar desmaiando.
— Acho que ela
desmaiou — falou Alberto.
— Que nada!
Está bem acordada — respondeu Caio ajoelhando-se diante dela.
Kimberly virou
a cabeça para o lado contrário a ele. Não queria ver mais nada, só queria sair
dali, mas não tinha noção de como faria isso. Fechou os olhos e sentiu as
lágrimas quentes escorrendo pelo lado do rosto machucado.
De repente,
ela ouviu um rosnado ameaçador e ouviu Alberto gritar. Em seguida, Caio sumiu
de perto dela. Lentamente, Kimberly virou a cabeça na direção em que os homens
estavam e o que viu a deixou-a mais apavorada ainda. Ulrich estava lá, a alguns
metros de distância de onde ela estava caída. Segurava Alberto pelo pescoço e o
erguia do chão com tal facilidade que o fazia parecer com um boneco de pano.
Kimberly pôde ver que Alberto debatia-se tentando se soltar, mas não conseguia.
A mão de Ulrich fechou-se em torno do pescoço dele como se fosse uma coleira de
ferro.
— Was hast Du getan? (o que você fez?) —
Vociferou Ulrich enraivecido. — Realmente você não preza a vida que tem!
Com certo
esforço, Kimberly começou a se erguer. Tomava muito cuidado para levantar
devagar, evitando provocar uma nova tontura, perder o equilíbrio e cair
novamente.
Ulrich parecia
não ter notado que ela estava se mexendo. Ele estava completamente focado nos
dois assaltantes. Para Kimberly era isso que ela percebia, mas para Ulrich era
diferente. Ele conseguia captar todos os detalhes da cena. Segurava Alberto
pelo pescoço e tinha total ciência de Caio, meio desacordado, encostado na
parede quando fora arremessado contra ela e também conseguia perceber todos os
movimentos lentos e cuidadosos de Kimberly, desde o momento em que ela virara a
cabeça para a parede até o momento em que ela se levantara, pegara a pasta do
chão e se encostara à parede para evitar cair de novo. Naquele momento, ele
desejou que ela tivesse desmaiado para que não presenciasse o que ele iria
fazer. Ela ficara tão assustada antes, quando ele estava sobre ela no sofá, que
ele não queria amedrontá-la ainda mais com o que estava por vir. Mas era um mal
necessário e ele precisava protegê-la.
Kimberly
respirou fundo mais uma vez e se afastou da parede, buscando o equilíbrio sem
apoio. Quando se sentiu segura para ir embora, ouviu a voz de Caio que
recobrara a consciência e tentava se levantar.
— Ah! Aí está
você, mocinha — disse com a voz um pouco enrolada — você não vai embora antes
de me dar o que eu quero!
Instintivamente
ela deu um passo para trás e, no mesmo instante, ouviu aquele rosnado de novo.
Olhou rapidamente para os lados buscando o animal, provavelmente, um cachorro
que estava fazendo tal barulho, mas não havia nenhum cachorro por perto, só
ela, os homens e Ulrich. Então, ela retesou o corpo em estado de alerta quando
concluiu que fora Ulrich quem emitira o som. Balançou a cabeça de um lado para
o outro tentando negar a associação, mas não havia como. Estava claro demais.
— Vou até aí,
pegar você! — Gritou Caio com raiva, tentando se levantar.
— Não vai não!
— Ordenou a voz estranha de Ulrich.
Kimberly ficou
pregada ao chão, não conseguiu mais se mexer. Estava consciente demais e, mesmo
não querendo, registrou toda a cena em sua mente.
Viu Caio
apoiando-se à parede para tentar se levantar, mas não conseguiu, porque Ulrich,
sem soltar Alberto, aproximou-se dele e com a mão livre erguida acima da
cabeça, em um gesto muito rápido e quase imperceptível, traçou uma linha em
diagonal que passou pelo rosto e pelo peito de Caio. À princípio, nada
aconteceu, mas no instante que se seguiu, Caio passou as mãos pelo rosto e as
olhou horrorizado, pois elas estavam manchadas de sangue. Baixou a cabeça para
o peito e percebeu que a camisa que estava usando estava rasgada em quatro
linhas diagonais e o sangue começava a manchá-la. Em um gesto desesperado, Caio
rasgou mais a camisa e gritou quando viu quatro cortes profundos em seu peito.
Ao presenciar
tal cena, Kimberly abriu a boca para gritar, mas o som não saiu então ela
arregalou os olhos quando viu Ulrich colocar Alberto no chão, sem soltá-lo e,
em um gesto simples e preciso, morder o pescoço dele.
Kimberly
segurou a pasta com mais força contra o peito e murmurou:
— Um
canibal... ele é um canibal...
Por instinto,
ela deu meia volta e disparou correndo para frente. Não sabia como conseguia
correr, mas achava que a adrenalina era uma boa explicação para tal feito.
Assim que se
virou para correr, ela o ouviu dizer:
— Ist Lüge... (é mentira...).
Porém,
Kimberly não entendeu o que ele disse e tampouco quis entender. Continuou
correndo como uma louca pela rua deserta. Estava desesperada e queria ir embora
a qualquer custo. Já não sabia mais para onde estava correndo, pois não
conseguia ver direito por causa das lágrimas que teimavam em sair, turvando-lhe
a visão. Agora, corria pelo puro e simples instinto de sobrevivência. Entrou em
uma rua e quase foi atropelada por um carro que estava dobrando a esquina. Com
a surpresa, o carro buzinou para ela e Kimberly parou imediatamente. Com um
sorriso bobo nos lábios, ela constatou que, milagrosamente, era um táxi que
quase a atropelara.
Parou com as
mãos no capô do carro e pediu ao motorista.
— Pode me
levar para a casa, por favor?
O motorista
respondeu que sim e, quando Kimberly embarcou no carro, ele perguntou antes de
arrancar.
— Moça,
precisa de alguma ajuda? Está machucada, gostaria que eu a levasse ao
pronto-socorro?
Kimberly
balançou a cabeça e respondeu:
— Não, eu
estou bem... só preciso ir para casa, por favor.
— Tem certeza
que não quer que eu a deixe no hospital? — Perguntou preocupado.
Kimberly
passou as mãos pelo rosto para limpar as lágrimas e disse:
— É sério,
estou bem, só me deixe na Rua Santo Antônio, por favor.
— Tudo bem,
você quem sabe — disse o motorista dando o assunto por encerrado.
Assim que o
táxi estacionou em frente ao prédio, Kimberly pagou a corrida e saiu
rapidamente do veículo.
— Boa noite —
disse o taxista enquanto a observava correr até o portão de entrada, deixar as
chaves caírem, pegá-las, abrir o portão e disparar correndo pelo interior do
prédio.
“Puxa” —
pensou o taxista intrigado — “ela deve estar com um grande problema. Tão
nova... que pena” — e arrancou o carro, seguindo pela rua deserta.
Kimberly não
conseguia mais atinar o que estava fazendo, não coordenava mais os movimentos.
Também não conseguia ver as coisas direito por causa das lágrimas que
continuavam saindo, dificultando sua visão. Além disso, havia a forte dor de
cabeça e a tontura que ela começa a sentir. De vez enquando, a visão dela
escurecia e pontos brilhantes surgiam.
“Eu não vou
conseguir”, — pensou enquanto se apoiava à parede esperando pelo elevador —
“vou desmaiar aqui mesmo.”
Logo em
seguida, o elevador chegou e ela cambaleou para dentro. Parecia uma jovem que
havia bebido demais em uma festa. Contou os minutos para sair do elevador,
estava começando a enjoar e temia vomitar a qualquer momento. Quando a porta
abriu, Kimberly correu para o número 506. Desajeitada, conseguiu encontrar a
chave para abrir a porta, ia colocá-la quando deixou o chaveiro cair novamente
e quase perdeu o equilíbrio quando se abaixou para pegá-lo. Quando se ergueu,
seu coração parou por um segundo. Ela não estava mais sozinha: Ulrich esta ali,
ao seu lado.
Sem pensar,
ela abriu a porta do apartamento o mais rápido que pôde. Sua respiração começou
a acelerar de novo, ela ia gritar quando ele se aproximou dela, tapou-lhe a
boca para que não gritasse e a empurrou para dentro do apartamento, fechando e
chaveando a porta. Ele fez tudo tão rápido que, para Kimberly, não levou mais
do que um segundo.
Ela ainda
conseguiu ouvir a voz dele sussurrar em seu ouvido, enquanto finalmente caía na
inconsciência.
— Agora sim,
você pode desmaiar
Meine Prinzessin
(minha princesa).
Fico por aqui hoje. Espero que tenham gostado.
Mandem suas opiniões.
Feliz Natal para vocês :)