TEXTOS INSCRITOS PARA O 2º CONCURSO ASSOMBROS JUVENIS
INSCRIÇÕES HOMOLOGADAS / PSEUDÔNIMO
1.A bela da noite / Avelino Fantomas
2.A dama do espelho / Maria da Graça
3.A história dos vampiros / Leonardo Luis Ás
4.A lagoa maldita / Girassol Del Ruiz
5.Alienígena / Guri Medonho
6.A maldição da sereia / Sabrina Feix
7.A menina que gritou lobo / Denis Romerique
8.A pluma branca / Marques Rodrigues
9.Blues / Misty Morgan
10.Boneco / Vitor Finger
11.Bulita / Santi Rodrigues
12.Charlie / Ana Ene
13.Casamento entre Conde Drácula e Don Juan... / Correspondente de guerra
14.Daqueles que se foram / Juvêncio Cronópio
15.Dora e o gato / Lilith Black
16.Estrada para o terror / Arnaldo Raimundo
17.Estranhos no milharal / Rosa Blanca
18.Jogos proibidos / Nalla Raji
19.Lanterna / Lênoto Gasp
20.Mistérios / Cris Andersen
21.No escuro / Leonardo Luis Ás
22.Noite de lua cheia / Ninfa Ninféia
23.Noite na mata 1.0 / Ademar José Marins
24.O anfitrião / Betina Alves
25.O bracelete / Morghana Riona
26.O buraco / Loren Ipsum
27.O canibal / Urubu Kaapor
28.O esqueleto / Correspondente de guerra
29.O homem do sonho / Renata Carmenére
30.O livro dos desejos / Sabrina Stoba
31.O lobisomem / Guri Medonho
32.O poço milagroso / Renata Carmenére
33.O torce-braço / Cuca do sítio
34.PicSu / Ribalta Sustenido
35.Quem tem medo de corvo? / Henrique Troá
36.Sopros do mal / Fênix dos Pampas
37.Terror na internet / Guri Medonho
38.Trevas: diário de uma vampira / Morghana Riona
39.Troca de Olhares / Van der Till
40.Sombra / Van der Till
E agora, seguem os meus textos.
Se puderem, deixem suas opiniões. De qualquer forma, acredito que um dos meus textos deveria estar entre os vencedores.
O Bracelete
Lucinda tinha dezessete anos, era
caloura do Curso de Biblioteconomia e estagiava na biblioteca pública
da cidade. Logo se tornou amiga de Ariadne, que também estagiava na
biblioteca. Nas horas vagas, as duas planejavam abrir uma empresa de
consultoria depois que se formassem. A rotina das jovens era bem
tranquila, até o Bracelete aparecer.
Na segunda-feira, Lucinda chegou
animada à biblioteca. Logo que viu Ariadne, mostrou o presente que
ganhara do namorado. Era um bracelete de prata muito lindo que
imitava uma serpente e bem no meio dele, havia uma pedra roxa
brilhante.
— Logo que vi o bracelete, decidi
que tinha de ser meu! — Disse em tom possessivo, admirando o
bracelete e assustando Ariadne, que nunca vira a amiga falar daquele
jeito.
Lucinda não parava de olhar o
bracelete em seu pulso. Ele era tão perfeito e exótico que a
superfície parecia estar sempre mudando, tal qual uma serpente muda
de pele. Queria ir embora para admirar melhor o bracelete.
Chegando em casa, Lucinda foi direto
para o quarto, onde se deitou na cama para ver o bracelete por todos
os ângulos possíveis. Como estava cansada, dormiu. Dormiu e sonhou.
Sonhou que estava na biblioteca, no
escuro. Mais a frente, um facho de luz roxa apontava para alguma
coisa. Caminhou até o balcão de atendimento espantando-se quando
viu que o facho de luz vinha do bracelete que ganhara. Seguiu o olhar
na direção da luz que indicava o jardim de inverno. “Como é que
ele veio parar aqui?” — Pensou pegando o bracelete e o colocando
no pulso. Sem resposta, caminhou até a porta de saída. Quando ia
abrir a porta, a pedra roxa do bracelete brilhou intensamente e uma
força que não era a dela puxou seu braço na direção do jardim.
Ficou apavorada. Alguma coisa segurava seu pulso com força, mas não
havia nada ali! Lucinda tentou se soltar, mas não conseguiu e seguiu
de arrasto até o centro do jardim. Foi obrigada a se curvar e,
quando estava prestes a tocar o chão, da terra surgiu algo estranho
e em decomposição, parecendo ser a mão de um cadáver que agarrou
firme seu braço. Quanto mais força fazia para se soltar e recuar,
mais a mão a apertava. No esforço de fugir daquela coisa, Lucinda
havia desenterrado a mão e um braço em mesmo estado de
decomposição.
— Me ajude — pediu uma voz
suplicante. — Por favor... liberte-me...
Então, Lucinda viu a terra se
mexendo e deduziu que o resto do corpo logo apareceria. Juntou suas
forças e gritou apavorada:
— Não! — Acordou tremendo de
medo, o pesadelo fora real demais.
No dia seguinte, Lucinda tentou
esquecer o pesadelo horrível, mas sempre que se distraía, a imagem
daquela coisa vinha à mente e ela não conseguia mais se concentrar.
Ao término do expediente, Lucinda foi para casa e, quando a noite
chegou, fez de tudo para não dormir, pois estava com medo. Porém,
adormeceu sentada no sofá quando assistia à televisão e, novamente
sonhou.
Estava de volta à biblioteca,
seguindo os mesmos passos do pesadelo anterior. Quando o resto do
corpo saiu da terra, Lucinda se desvencilhou da coisa que a agarrava
e se escondeu atrás do balcão de atendimento. O silêncio reinou,
mas foi quebrado por uma voz triste e lamuriosa que dizia:
— Ajuda... peço ajuda para me
libertar... por favor...
Encolhida atrás do balcão, Lucinda
sentiu que tinha de ver o que era aquilo que suplicava. Levantou
devagar e, ao ver o que estava a sua frente, colocou as mãos sobre a
boca para abafar um grito de horror. Havia um homem no jardim. A
visão era horrível, pois ele estava queimado dos pés a cabeça e
em algumas partes onde não havia mais carne, Lucinda podia ver os
ossos dele.
— Me ajude — pediu estendendo os
braços para a jovem. — Preciso da verdade... para ser livre e
descansar em paz...
Lucinda estava aterrorizada, mas ainda
assim, perguntou:
— Que verdade é essa? Se libertar
do quê?
— O meu tesouro — respondeu —
vai me libertar...
— E onde ele está? — Indagou
tentando não olhar para a criatura.
— Está em baixo do que sempre vem
e sempre vai, sem parar — respondeu sumindo enquanto Lucinda mais
uma vez acordava assustada.
No dia seguinte, ligou para Ariadne e
pediu que ela faltasse às aulas, pois precisava contar-lhe algo
terrível. Encontraram-se no parque próximo à biblioteca e, logo
que a amiga chegou, Lucila contou tudo o que aconteceu. Quando o
relato terminou, Ariadne disse em tom sério:
— Então a lenda do Diretor é verdade! Nós temos de ajudá-lo!
Lucinda não entendeu e Ariadne
explicou. Rezava a lenda que em 1906, Victor, fundador e primeiro
diretor da biblioteca, foi assassinado por Brian, um político que
não admitia que as pessoas tivessem acesso à informação, porque
queria dominá-las através da ignorância. Além disso, Brian era
apaixonado pela noiva do diretor e, como não podia nem destruir a
biblioteca, nem ficar com Elisabeth, decidiu que eliminaria a pessoa
que as possuía. Sabendo que Victor estudava assuntos esotéricos com
os amigos, Brian armou uma cilada para que o outro fosse acusado de
bruxaria. O plano deu certo, Victor foi queimado vivo e, a noiva
suicidou-se quando soube do ocorrido. Acredita-se que Victor deixou
um diário relatando tudo: o início da construção da biblioteca,
as sabotagens de Brian até os últimos momentos em que foi acusado
de bruxaria. Lucinda ficou impressionada e deduziu que o homem do
pesadelo só podia ser Victor.
Sendo assim, as duas criaram um plano
para encontrar o tesouro e libertar Victor. Mas para isso, teriam de
passar a noite na biblioteca. Quando o expediente encerrou, as jovens
despediram-se da bibliotecária e ficaram na calçada fingindo
conversar algo importante. Logo que a bibliotecária dobrou a
esquina, as duas correram para os fundos da biblioteca e, com a chave
que Lucinda pegara no dia anterior, sem ninguém perceber, entraram.
A biblioteca estava às escuras como nos pesadelos e Lucinda,
tremendo de medo, desejou que aquilo acabasse logo. Caminharam até o
balcão de atendimento e seguiram para a sessão dos periódicos.
— E agora? Como vamos achar o
tesouro? — Indagou Ariadne preocupada.
— Eu não sei, mas o bracelete deve
saber — Lucinda ergueu o pulso na altura do rosto e pediu —
mostre-me o tesouro!
Então a pedra roxa brilhou
intensamente dirigindo seu brilho para um lugar específico no chão
perto das estantes de periódicos.
— Achamos o lugar! Vou pegar as
ferramentas! — Gritou Ariadne correndo até uma sala e voltando em
seguida com dois pés-de-cabra. Entregou um para a amiga e começaram
a remover o piso com rapidez.
Enquanto retirava a madeira, Lucinda
ouviu o som de pedras rolando sobre a terra e uma voz triste dizer:
“Meu tesouro... minha liberdade...” Virou-se devagar e paralisou
quando viu que o corpo dos pesadelos realmente existia. Ariadne
estava sentada contra a parede atônita demais para dizer ou fazer
alguma coisa. O corpo avançava lentamente para elas e então Lucinda
gritou para a amiga:
— Esqueça ele! Vamos terminar o que
começamos!
Voltaram ao trabalho com rapidez, sem
pensar no monstro que se aproximava. Ao retirar todo o piso,
encontraram uma caixa pesada de madeira. Juntas, puseram a caixa
sobre uma mesa e, com o auxílio dos pés-de-cabra, abriram-na com
facilidade. Elas estavam tão preocupadas em recuperar o diário que
não viram quando o monstro horrendo gradativamente voltava à forma
humana e, quando Lucinda pegou o diário e se virou para o monstro,
houve uma claridade tão grande na biblioteca que ela teve de fechar
os olhos.
— Lucinda, olha isso! — Gritou
Ariadne assim que a claridade diminuiu.
Ao abrir os olhos, Lucinda ficou
espantada. No lugar do monstro havia um homem bem vestido e muito
elegante. Ele aproximou-se mais, mas as duas recuaram assustadas.
— Por favor, não temam. Sou eu,
Victor, o diretor da biblioteca — explicou com voz calma. —
Agradeço a você, Lucinda por ter me libertado e encontrado o meu
tesouro, nesse diário está registrada a história da biblioteca e
todas as provas de que Brian foi o autor da minha morte. Enterrei o
diário neste lugar, porque sabia que um dia alguém o encontraria.
Entregue o diário à bibliotecária, que saberá o que fazer.
Houve outro clarão que iluminou a
biblioteca e, ao abrir os olhos, Lucinda viu uma moça muito linda
perto da porta de entrada.
— Victor! — Ela chamou indo ao
encontro do diretor.
— Elisabeth! — Victor exclamou
abraçando-a. –— Enfim nos reencontramos, nossa espera finalmente
acabou!
A moça afastou-se de Victor e disse
para Lucinda:
— Muito obrigada por ter encontrado
o meu bracelete e ter nos libertado. Victor me deu na época em que
estudávamos ocultismo. É um bracelete mágico que tem o poder de
encontrar o que se perdeu e achar o que mais se deseja. Fique com
ele, como um presente meu de gratidão — disse sorrindo
gentilmente.
— Agradeço por nos trazer a paz —
disse Victor sorrindo para Lucinda e Ariadne. — Entreguem o diário
para a bibliotecária e serão recompensadas — abraçou Elisabeth e
os dois desapareceram envoltos em uma brilhante luz azul. Finalmente
a verdade foi revelada e tudo acabou bem.
No dia seguinte, Lucinda e Ariadne
entregaram o diário e contaram o ocorrido à bibliotecária, que
ficou radiante, pois procurava por ele há anos, através da
divulgação de cartazes que ofereciam uma grande recompensa para
quem encontrasse o Diário de Victor Stein.
E, como o diretor previu, as jovens
ganharam ótima recompensa em dinheiro. Lucinda e Ariadne ficaram
muito felizes e orgulhosas, pois além de desvendar a lenda da
biblioteca, também ganharam a recompensa para poder abrir a empresa
de consultoria que tanto almejavam quando estivessem formadas.
Michele Irigaray
Trevas:
diário de uma vampira
Quando
conheci Wagner, sabia que esse momento chegaria, porque em todos os
meus dezesseis anos, era o que eu mais queria em minha vida. Mas
agora que aconteceria, eu estava com medo, muito medo.
Wagner
surgiu em um dos meus passeios noturnos pelo cemitério. Naquela
ocasião, a turma que sempre me acompanhava, não estava comigo e eu
fui passear sozinha mesmo assim. Estava sentada em um túmulo, que
era o meu preferido, porque tinha a estátua grande de um anjo com as
mãos estendidas para o chão, como se oferecesse ajuda àqueles que
morreram. Observava a lua cheia, curtindo o silêncio e a leve brisa
que soprava naquela agradável noite de primavera. De repente,
percebi algo esquisito e, quando olhei para frente, vi um ser muito
pálido, de cabelos negros e olhos verdes tão brilhantes que
pareciam olhos de gato, imóvel olhando para mim. Se eu não
conhecesse muito bem o cemitério, diria que era uma estátua. Olhei
para ele por algum tempo e meu coração começou a bater acelerado
no peito. Era um vampiro!
Os
vampiros sempre me fascinaram desde criança e agora, na fase
“complicada” da adolescência, enquanto as meninas falavam sobre
namoro, garotos e festas (que era o padrão), eu ficava quieta na
minha, imaginando como seria se eu tivesse um vampiro como namorado.
Sinceramente, não sei por que sou assim, tão fascinada por essas
criaturas, é como se uma parte de mim fosse um pouco vampira, mas
sei que isso seria uma ideia estúpida e sem fundamento. Até Wagner
aparecer.
Naquela
noite, ele estava sobre o túmulo em frente ao meu, olhando para mim.
Eu queria dizer alguma coisa, mas não conseguia pensar em nada. Tudo
o que eu sempre desejei estava bem na minha frente e eu parecia uma
boba sem reação. Olhei para as minhas mãos tentando pensar no que
fazer e quando ergui o olhar, levei um susto ao vê-lo apenas a
alguns centímetros de mim.
—
Chegou a hora — anunciou como se eu soubesse do que ele estava
falando.
Eu
só conseguia olhar para os olhos verdes dele, estava hipnotizada.
—
Chegou a hora — ele repetiu e aproximou-se mais de mim, fazendo com
que eu sentisse sua pele fria e sua respiração gelada em meu rosto.
—
Hora do quê? — Indaguei tentando recuperar o fôlego.
—
Hora de vir para o meu mundo — e sem que eu esperasse, me beijou.
Por
alguns segundos, perdi a noção de tempo e espaço e quando ele se
afastou de mim, disse:
—
Por dezesseis anos acompanho a sua vida, porque você é especial.
Eu
não estava entendendo nada do que ele dizia. Na verdade, tudo o que
estava acontecendo não fazia sentido. Até o fato de ele estar ali
parecia mentira, mas eu sabia que não, não depois do beijo que ele
me deu.
—
Especial? — Indaguei cruzando os braços.
Levantei
e comecei a caminhar entre os túmulos para tentar ordenar o meu
pensamento, mas paralisei quando o ouvi dizer:
—
Sim, especial porque tem sangue vampiro correndo em suas veias.
—
O quê? — Gritei incrédula, mas em seguida me arrependi pelo
grito. De qualquer maneira, acho que os mortos não se importariam
com o barulho.
—
Você tem sangue vampiro correndo nas veias — ele repetiu
sussurrando em meu ouvido.
Novamente
me assustei. Era complicado se acostumar com os movimentos rápidos
dele. Dei meia volta e fiquei esperando a explicação.
—
Você não sabe de nada? — Indagou como se eu tivesse a obrigação
de saber sobre o que ele estava falando.
Balancei
a cabeça negando e então ele explicou:
—
Sua mãe foi atacada por um vampiro quando estava grávida. E, não
suportando a situação, cometeu suicídio logo que você nasceu. O
vampiro que a atacou também matou o seu pai e é por isso que você
mora com seus tios. Ninguém nunca lhe disse a verdade porque a única
coisa que sabiam era que os seus pais foram assassinados. O ataque
foi muito bem planejado pelo vampiro que matou os seus pais, para que
não houvesse suspeitas sobre a nossa espécie.
Comecei a analisar minha vida e percebi que muita coisa fazia
sentido. Minha preferência pela noite, minhas atitudes solitárias,
meu gosto por passear em cemitérios e minha paixão desvairada por
vampiros.
—
É por isso que estou aqui — ele disse. — Porque há dezesseis
anos, fui designado pelos Anciãos do nosso Conselho para cuidar de
você e transformá-la quando chegasse a hora — enlaçou-me pela
cintura e eu senti o frio de suas mãos sobre o tecido fino do meu
vestido. — E, ao acompanhar o seu crescimento, acabei me
apaixonando por você — finalizou apertando-me mais contra ele.
Foi
assim que conheci minha verdadeira origem. Quem diria, hein? Eu que
tanto amo vampiros, tinha o sangue deles em mim e não sabia. Mas e
então? Por que eu estava com medo do que aconteceria naquela noite?
Por que tinha vontade de desistir de tudo e sair correndo o mais
rápido dali? Talvez fosse o instinto humano em mim que se recusava a
morrer.
Senti
um frio desagradável no estômago e meu coração acelerou.
—
Por que o medo agora? — Perguntou apertando-me mais em seus braços
fortes.
Não
respondi, porque estava com falta de ar e na certa acabaria morrendo
se ele continuasse a me apertar. Wagner deve ter percebido que estava
me sufocando, porque abriu os braços deixando que eu recuperasse o
ar. Aproveitei o momento e me afastei alguns passos dele. Wagner me
olhou como se eu estivesse fazendo a coisa mais idiota do mundo e,
traduzindo a minha impressão, disse:
—
Você sabe que não vai adiantar fugir, não é?
Eu
sabia, mas continuava a recuar. Sabia também que logo em seguida ele
se transformaria e ficaria em seu estado natural, com os olhos negros
como azeviche e os caninos afiadíssimos como lâminas de espadas.
Sei
que agi daquela forma por instinto, porque não há chance alguma
contra um vampiro, mas mesmo assim, me virei e comecei a correr o
mais rápido que podia entre os túmulos, tentando me afastar dele.
Triste ilusão a minha, pois em cada direção que eu ia, lá estava
ele na minha frente, olhando-me com um certo sorriso sarcástico como
se perguntasse: “Até quando vamos brincar de gato e rato?”
Confesso
que tentei correr mais mesmo sabendo que não adiantaria nada, mas a
renda da minha saia acabou prendendo no canto de um túmulo e eu
perdi o equilíbrio. Foi neste descuido que Wagner me pegou no colo e
me levou para um túmulo que parecia um altar, onde me deitou com
cuidado.
Ficamos
parados por um momento nos olhando. Apesar de Wagner estar
transformado, ainda assim ele era lindo. Não tinha como não ceder
aos caprichos de uma criatura como ele.
—
Não há o que fazer Verônica. Quando existe um híbrido entre nós
só existem dois caminhos: ou a morte, ou a transformação. E o
nosso Conselho optou pela sua transformação. — Olhou para mim e
os seus negros brilharam. Provavelmente, ele estava imaginando como
seria o gosto do meu sangue. — E aqui estou eu, pronto para cumprir
minha missão e fazer de você a minha companheira eterna.
Ao dizer isso, segurou meu rosto com
delicadeza e o virou para o lado esquerdo. E, sem que eu tivesse
tempo para me preparar psicologicamente, cravou seus caninos em meu
pescoço.
A dor foi terrível. Tive a sensação
de que duas agulhas grossas e afiadas haviam sido cravadas em meu
pescoço. Em seguida, senti um líquido espesso e muito, muito frio
ser injetado espalhando-se rapidamente em minha circulação
sanguínea. Meu corpo estava congelando e eu não podia fazer nada,
pois estava fraca demais para tentar empurrá-lo para longe de mim.
Além disso, eu ficava mais debilitada a cada vez que eu sentia meu
sangue ser drenado por ele. A sensação de tontura, fraqueza, falta
de ar e a dor de cabeça aumentavam vertiginosamente e eu desejei com
as poucas forças que ainda me restavam que aquilo acabasse logo.
Quando pensei que iria morrer, ele
afastou os caninos do meu pescoço e ficou me olhando por alguns
segundos. Olhar para ele com a boca manchada de sangue, o meu sangue,
me deixou enjoada, mas melhorei quando minha visão começar a turvar
e eu não consegui distinguir mais nada. Meu coração acelerou de
tal forma que desejei ter um ataque cardíaco para encerrar de uma
vez com aquele sofrimento.
Jamais pensei que a transformação
fosse tão dolorosa assim.
— Está quase no fim... — ouvi a
voz dele dizer ao longe. — Preciso apenas que você beba o meu
veneno para poder renascer.
Eu já não me mexia mais, todo o meu
corpo era feito de chumbo e desisti de lutar a muito tempo. Já
começava a sentir aquela sensação reconfortante e abençoada de
quando se cai na inconsciência do sono, no meu caso, da morte para
descansar.
Minha alma estava longe e eu senti
vagamente um líquido espesso escorrer em minha boca e descer pela
garganta, acho que era sangue, pois tinha um gosto ferroso e doce ao
mesmo tempo. Devia ser o sangue dele.
Acostumei com a inércia e a paz do
lugar para onde minha alma fora, mas algo abrupto e cruel me puxou de
volta ao meu corpo, fazendo com que eu sentisse a pior dor de toda a
minha vida. Meu corpo todo queimava, tinha a sensação de que seria
partida ao meio. Era como se os meus ossos estivessem sendo todos
esmagados ao mesmo tempo e minha pele parecia se desprender do corpo.
Eu não respirava, não me movia e meu coração quase não batia
mais. Por que aquilo não acabava logo? Acho que o sangue de Wagner
foi pior do que a sua mordida. Por um breve momento, antes de começar
a perder os sentidos, desejei que nada daquilo tivesse acontecido. O
mesmo ser que eu tanto admirava e cultuava era o mesmo que havia
matado minha mãe e meu pai, e modificara minha vida para sempre, sem
nem ao menos saber se era isso que eu queria para mim. E foi então
que a raiva começou a crescer.
Eu não suportava mais tanta dor
assim e quando tudo se intensificou de forma insuportável, a única
coisa que eu consegui pensar antes de cair na escuridão da
inconsciência foi:
“Vingança... vingança contra o
vampiro que matou meus pais...”
Bem, queridos leitores, fico por aqui deveras chateada com a notícia, porque eu bem que deveria estar entre os que vão à Feira do Livro, mas... fazer o quê? Fica para o ano que vem.
Pode demorar, mas uma coisa é certa: Ainda estarei na Feira do Livro de POA!